Quando tive a honra de ser
convidado a ler estes textos antes de serem editados, deparei-me com a
dificuldade que todos temos de encarar/enfrentar estas realidades, que de tão
grosseiras, são incompreensíveis. Nenhum destes temas que Ana Mascarenhas nos traz
é de fácil leitura, muito menos compreensão, mas é um sério alerta para que não
deixemos que continue a acontecer em qualquer parte do planeta escondida por
uma falsa justificação religiosa ou tradicional, está na hora de todos os seres
humanos se unirem a favor de uma erradicação deste tipo de comportamentos que
em nada dignificam o ser humano.
As crenças são sem dúvida a alma
de um povo e por conseguinte do ser humano, o que só por si pode ser
elucidativo e pode de alguma forma explicar as atrocidades que ainda se cometem
contra as mulheres, contudo não podem nem devem ser justificação para tais
atos.
Atrocidades, que
incompreensivelmente continuam a fazer parte de algumas culturas e que deveriam
ser erradicadas, não com atos evasivos ou violentos ou ainda condenativos, mas
reeducando alguns item’s destas culturas, nomeadamente no respeito a ter pela
mulher.
As tradições a meu ver são a
forma de perpetuar, os erros dos nossos avós sem questionarmos o porquê dos
mesmos. Na geração dos meus pais, algumas mulheres não tinham voto na matéria
sendo por vezes agredidas sempre que algo não corria como o “chefe de família”
queria, não foi há tanto tempo assim e ainda hoje muitos adolescentes pensam desta
forma pelos exemplos que vêem e que lhe são transmitidos.
Em 2010 o número de denúncias de
violência doméstica contra as mulheres era de 31.235, sendo que em 2008 o
número de mulheres mortas por violência doméstica era de 40 e em 2011 quase que
duplicaram.
As atrocidades cometidas vão
desde a simples expulsão da família ao apedrejamento, queimadura com ácido,
corte do clítoris, desfiguração do rosto, escravatura e assédio sexual, como se
de um ser amorfo se tratasse, sem dor e sem sentimentos, como se não fosse um
ser humano, como se o homem fosse dono e senhor da sua existência.
Este livro traz à luz tudo o que
de pior existe no nosso íntimo e nos afasta dos outros animais.
Somos os únicos animais que
odeiam outros da mesma espécie e razões não faltam, odiamos seres humanos de
outros lados do planeta, odiamos seres humanos de outras cores, odiamos seres
humanos de outras religiões, odiamos seres humanos que não pensam como nós,
como se nós fossemos a essência da sabedoria universal. Inventámos religiões e
guerras, conseguimos ser o melhor e o pior do planeta. Está na hora de nos
unirmos para dizer “já chega”, “basta”, sejamos apenas… humanos.
“Silêncio denunciado” é uma
homenagem a todas as mulheres que padeceram e padecem perante a ignorância, o
ódio e a insensibilidade.
Luís Fernando Graça
Artista Plástico
editor/director administrativo da Revista Novos
Talentos