Por vezes palavras tão
simples conseguem alimentar a nossa alma,
fazendo delas o nosso
refúgio, mas, também, a nossa maneira de estar na vida,
a nossa postura perante a
sociedade e a nossa vivência perante o mundo, por isso,
é preciso coragem para
calar até o próprio silêncio,
porque o silêncio não
cala, mas sente…
Ana Mascarenhas
Palavras Prévias
Não vou mentir! Estas palavras compiladas agora em
livro custaram-me muito a escrever, houve momentos em que tive que parar porque
a personagem que estava a compor me fazia doer, sentia-a como se fosse eu,
vivia-a e por isso, obrigava-me a parar, para sair da história, porque a dor
era grande, imensa… logo, não é um livro cor-de-rosa, mas também não é um livro
de ficção, embora os seus factos sejam histórias contadas, vividas e
presenciadas por muitos, foram sempre silenciosas, assim, antes é, uma
literatura de intervenção, um apelo ao grito, mas não aquele que é calado e sim
àquele que se ouça, ou se faça ouvir, nem que seja no silêncio da noite, mas é uma
súplica, um pedido, uma história com várias histórias, por isso, é uma vida que
representa várias vidas, em vários locais e com várias práticas.
Não foi necessário nomear nenhum País, nem um
Continente, muito menos uma Fronteira, porque os Quatro Cantos do Mundo estão
presentes pelas suas práticas, costumes e ditas culturas, pelas suas atrocidades,
hábitos e dores, pelos seus habitantes, pelas suas terras, pelas suas vestes e
pelos seus odores.
Também não foi necessário criar muitas personagens,
uma representa o tudo e o todo. Representa a Vida dita Humana, o Sonho e a
Besta, a Realidade e a Frontalidade, a dor, o sofrimento, a luta, a conquista,
a desordem ou o caos. Representada pela sua vida, a oposição é o seu sonho, a
Grandeza e a mesquinhez, respectivamente.
Não evoluímos, nada crescemos, nada compreendemos e
quando me dizem que muito se fez, que a evolução humana se concretizou, ou…
vai-se concretizando, apenas fico a pensar, questionando-me, frontalmente:
será?! Não acredito! A evolução apenas se dá de forma materialista, o
crescimento desenvolve-se de aparências, joga-se com as vidas e confunde-se
Cultura com dor, com flagelo e prazer de ver sofrer.
Por isso, o poder continua instituído, o poder
sobre os mais frágeis, a ganância, a arrogância, o facilitismo e a mentira. São
tudo estados que habitam nos vários Estados, uns de uma maneira, outros de
outra, uns através de práticas ditas culturais e outros apenas por maldade,
pelo simples facto do prazer se fazer através da dor alheia.
Onde está a evolução humana? Na substituição da
máquina pelo homem? No poder sobre os mais frágeis? Nas diferenças ditas
culturais mas que não passam de desculpas esfarrapadas para que o poder não
lhes seja retirado? Onde?! Onde é que evoluímos? Em nada!
Não soubemos e continuamos a não saber crescer como
pessoas, não soubemos e continuamos a não saber fazer jus à palavra “humana”,
aquela que se diz racional mas que consegue ser mais Besta que a própria Besta.
Afinal somos isso mesmo, Bestas apelidadas de
Humanas. Somos a vergonha porque tudo sabemos e nada fazemos, porque tapamos os
olhos e os ouvidos, porque viramos a cara quando nos faz doer, porque todo o
mal que acontece não acontece por perto ou connosco, porque somos assim,
egoisticamente comodistas…
Ana Mascarenhas