Com a escrita me acuso, me delato e inocento... Com a imagem denuncio sem palavras e me culpo em silêncio...

Tertúlia Cultural do LiterArte - Bet on People

E hoje, nas Tertúlias Culturais LiterArte, a nostalgia tomou conta de mim. A pintura como refúgio de um mundo imundo, como forma de expressão e percepção do tempo em que vivemos, como vivemos e do tempo sem tempo para nós ou para os outros...afinal, ele passa sem licença pedir e nós entramos nele, não para ficar, apenas para partir...





Tertúlia do Vinho

Um excerto sobre a entrevista dada no restaurante "Taverna do Morro" em Luanda, Angola.
A Tertúlia do Vinho aliada às Artes, afinal, degustar não deixa de ser uma Arte.
A Arte de cozinhar bem, degustar bem e apreciar cada momento como se fosse uma pincelada de tinta numa tela branca, onde o protagonista é o vinho e os espectadores são os provedores.



 

Entrevista RTP África

Entrevista para a RTP África para o programa "Artes e Espetáculos".

Nesta entrevista foram abordados assuntos como a minha última exposição fotográfica intitulada "Sete Prazeres Imortais", bem como, projetos passados e futuros.

Algumas imagens




O Açúcar da Vida!


Terra agreste
Verde terrestre
Amarelo feitiço
Um balão rebuliço
Assim sou eu
O açúcar da vida
Que voa sem vento
E vive com tempo



Pintura em acrílico e poesia de Ana Mascarenhas

Mulheres de Sal!


Deserto árido, vegetação ausente, e as lágrimas do seu suor, são a água que bebem de Sol a Sol.
São mulheres que trabalham na escavação do Sal, escavam até não mais verem a luz do dia.
As suas pernas são o seu equilíbrio, a enxada o instrumento de trabalho, e o homem é o que traz a água, quando o suor não chega para matar a sede.
Pergunto-me tantas vezes? Porque nestas comunidades vejo frequentemente mulheres arqueadas, muitas vezes, com filhos às costas, outras, sentados junto a elas, e os homens apenas ficam a ver, ou vão buscar água para elas beberem?
Questiono-me sem mais ilusões, quantas são as situações em que vi um homem a trabalhar e a mulher a descansar?
Aqui nestas comunidades as mulheres trabalham, as crianças trabalham e os homens bebem para depois chegarem, comerem o que a mulher cedo preparou antes de ir labutar, e depois para a cama vão-se lambuzar, no meio das pernas já cansadas destas mulheres, que trabalharam de Sol a Sol e agora querem o descanso, mas apenas dão o pão e aquecem o varão.
O dia acordou novamente, aqui o Sol aquece cedo e ilumina de madrugada, por isso, mais um dia passa, o fogão já acesso para a comida ficar feita, de seguida a partida, lá vão elas para o deserto, descalças ou de chinelos, mas sempre na companhia das suas enxadas e dos seus tradicionais panos, com que tapam o corpo e a cabeça do Sol que aquece, à medida que o dia amanhece.
É assim que vivem estas mulheres, mulheres guerreiras, lutadoras, mulheres que colhem o que o diabo amassou, e no final do dia, já o Sol se escondia, mas continuam com um sorriso de uma inocente alegria, pois, vão para casa carregadas com o Sal que de dia recolheram, para fazerem pequenos montes e encherem os alguidares de cores fortes, e os levarem nas suas cabeças.
Afinal, este é o sustento das suas famílias.
O sustento do homem é à sombra a observar o tempo passar, e aguardar a mulher chegar, para depois penetrar nos seus seios ressequidos, já bem descaídos de tanto amamentar, não só o homem, mas também os seus filhos.
É a vida das Mulheres por estas bandas!
É a vida das Mulheres por estas terras!
É a vida das Mulheres do deserto!
É a vida das Mulheres de Sal!

Texto e Fotografia de Ana Mascarenhas





Entrevista na Rádio Cultura Angola



Entrevista sobre Fotografia


Entrevista de Rosa Lemos a Ana Mascarenhas na Rádio Cultura Angola, sobre o tema Fotografia. Irá existir alguns minutos de escuridão devido à falta de energia, o que já é habitual em Angola, mas a situação é rapidamente reposta. Espero que gostem.





O Menino das Grutas


Duas Imagens, duas cores,
duas grutas, duas vozes,
duas poses!

Mas sempre com um único olhar,
um único gesto
E um único sorriso...

Escondido entre lábios fechados,
mas nunca calados, pelas palavras ouvidas
e nunca paridas, pelos sorrisos
sofridos e nunca amados…

És o menino das grutas!
aquele que oculto, cala a bala e mastiga a fome,
bebe a sede e vomita a vontade,
aquela que ajuda quem tudo tem e nada precisa,
aquela que abriga a saudade e ampara a verdade…

Pisas a terra molhada com os teus secos pés
Calejados pelas pedras banidas e bem afiadas
Olhas para cima e os morcegos são a tua companhia
Olhas para baixo e a areia a tua seca caminha

És tu o menino marcado!
És tu um sorriso vedado!
És tu um olhar encantado!

És tu o menino das Grutas!

Ana Mascarenhas
23 Mar 23




Nas Páginas do Livro

Os Poemas da exposição "Sete Prazeres Imortais" declamados por Alzira Simões e Lucas Cassule





Ésobreler

 

Ésobreler - Já pode adquirir em Angola e em formato e-book alguns livros da autora Ana Mascarenhas, basta aceder ao link https://www.esobreler.ao/




Sete Prazeres Imortais - Vaidade

 

"Sete Prazeres Imortais" no Instituto Guimarães Rosa, Centro Cultural Brasil Angola, em Luanda. Exposição patente ao público até 11 de Março de 2023.


 

VAIDADE

 

 

Lábios vermelhos carnudos, maquilhagem Guerlan

Sou a vaidade em pessoa, visto a pele da marca Prada

Calço os pés com distinto sabor a Gucci

Uso ouro e nunca prata, muito menos bijuteria

 

São símbolos da vaidade, são a minha tradição ou até vocação

Mas é ela que faz de mim quem sou, a mulher furacão

Aquela que dá nas vistas e que solta gargalhadas

Aquela que se apaixona e nunca vive de migalhas

 

Vaidade, todas nós a temos, com ou sem beleza

Mas todas nós a sentimos, bebemos dela a nossa essência

Vivemos com ela e dela disfrutamos a nossa realeza

Por isso, assumo, quero ser a vaidade na sua plena eloquência

 

Ana Mascarenhas






 

Sete Prazeres Imortais - Preguiça

 

"Sete Prazeres Imortais" no Instituto Guimarães Rosa, Centro Cultural Brasil Angola, em Luanda. Exposição patente ao público até 11 de Março de 2023.


PREGUIÇA

Deitado vomito noticias paridas do nada, pois não as leio, tenho preguiça

Dormito e acordo, coloco o jornal na cara para o Sol não me queimar

Mas de nada vale, as letras desse jornal, ajudam o Sol a peneirar o meu lençol

 

Troco do jornal para um livro, aquele que cheira a sapiência, mas também não o leio

Apenas o abro para me ajudar a esconder a cara da luz, ou até de mim próprio

Afinal, é esta preguiça que me destrói, mas também me constrói, este meu vadio fardo

Esta displicência que aprendi e com ela em toda a minha vida vivi, agora não sei como a acordar, pois o sono acompanha-me, a preguiça respeita-me e o sonho alcança-me com quem alcança o altar

 

Por isso durmo!

Durmo de chapéu, com jornal ou sem ele, com ou sem livro, mas durmo

Durmo desalmadamente, e quanto mais durmo, mais sono tenho, mas a preguiça encontra-me e respeita-me, desenvolvendo em mim esta necessidade enorme de antecipar o sono eterno a que chamamos morte, porque durmo continuamente tornando-me a pessoa mais ociosa do universo sem saber sequer o que é viver!

 

 

Ana Mascarenhas






Sete Prazeres Imortais - Luxúria

"Sete Prazeres Imortais" no Instituto Guimarães Rosa, Centro Cultural Brasil Angola, em Luanda. Exposição patente ao público até 11 de Março de 2023.

COLEÇÃO RESERVADA/VENDIDA

LUXÚRIA

 

 

Um copo de vinho, um prazer saciado

Um cigarro viciado e um beijo apagado

Vermelho paixão, deitada num colchão

Espero a luxúria de um pequeno varão

 

Danço com sensualidade, sentada ou deitada

O que não pode faltar é o vinho de uma assentada

Gosto de luxo, de joias e carros mas, também, de casas e viagens

No entanto, apenas danço com o vinho, porque tudo são miragens

 

O cigarro aceso ilumina a aura que em mim pernoita

Inspiro a nicotina e inalo o seu fumo, liberto o odor desse cigarro sem dor

Ele vai-se apagando e aos poucos, eu vou desmaiando

O vinho combina com a loucura, e o vermelho com a doçura

 

E assim fico, luxuosamente estática, deliciando-me com este doce veneno

Neste louco momento, a que eu chamo de pequena luxúria, recheada de tormento

 

Um copo de vinho, um prazer saciado!

Um cigarro viciado e um beijo apagado!

  

Ana Mascarenhas





Sete Prazeres Imortais - IRA

Sete Prazeres Imortais" no Instituto Guimarães Rosa, Centro Cultural Brasil Angola, em Luanda. Exposição patente ao público até 11 de Março de 2023.

 

 

IRA

 

Raiva, fúria, cólera, sinto um turbilhão de rompante, este furor que em mim habita sem eu pedir, sem eu querer, sem eu sequer me lembrar que eles existem, pois só queria esquecer.

Esquecer esta dor que me provocou estes sentimentos tão tristes quanto negativos

Estes sentimentos tão medíocres quanto pequenos

Tão vulgares quanto inócuos

 

Foram eles que entraram no meu ser e de mim fizeram esta pessoa que hoje sou

Uma figura recheada de energias negativas, coberta de elementos tóxicos,

Que me sufocam e me fazem gritar sem conseguir me ouvir

Porque quero soltar a ira que há em mim sobre o mal que expandi

Sobre a vida que escolhi

Sobre a existência em que vivi

 

Ira vai, sai de mim

Raiva solta-te, revolta-te e rebenta fora de mim

Fúria desleixa-te e de mim esquece esse eu

E tu cólera, envena-te só e apenas em ti

 

Pois eu finalmente…desisti!

 

  

Ana Mascarenhas








Sete Prazeres Imortais - Gula

Sete Prazeres Imortais" no Instituto Guimarães Rosa, Centro Cultural Brasil Angola, em Luanda. Exposição patente ao público até 11 de Março de 2023.


GULA


O prazer de comer é algo que hoje se manifesta pela elegância da restrição.
Hoje restrinjo-me ao essencial, não quero pão, nem arroz, massas e muito menos feijão. Também não quero bolos ou doces… esses, recheados de gordura ou fritos, pelo mal que faz ao meu colesterol.

A elegância dita o que devo comer, deixei de ser gulosa, essa gula que se manifesta em muitos, para mim não é senão, o vicio de comer sem prazer.
O meu prazer está na elegância, não no que como.

Sim… mas o que acontece aos meninos de África, às crianças espalhadas pelo mundo que choram pela dor provocada pela fome? Onde há gordura há formosura, onde há abundância, também há rejeição, porque a sociedade diz que os corpos devem ser esbeltos, esguios e sem gordura ou curvas, mas, e onde há fome há o quê?

Se não querem alimentar-se, ótimo, há quem queira. Vamos distribuir comida para saciar a gula de todos os meninos que passam privações, essa gula a que eu chamo de fome, essa gula a que eu chamo de prazer pelo simples facto de saber saborear o que hoje tenho para mastigar.

Ana Mascarenhas







Sete Prazeres Imortais - Inveja

 Sete Prazeres Imortais" no Instituto Guimarães Rosa, Centro Cultural Brasil Angola, em Luanda. Exposição patente ao público até 11 de Março de 2023.


INVEJA

 

Invejo-te por seres tão bela, por seres graciosa e até, quem sabe, vitoriosa!

Invejo-te por seres quem és, aquele ser em que a empatia cola em ti

Em que a simpatia se esfrega em ti

E tudo dança como se em sintonia, se manifestassem

 

Mas sabes? É uma inveja boa! Não é uma inveja de te querer mal, não!

É uma inveja de desejo de ser como tu

É aquela inveja a que eu chamo de musa, ou até inspiração para me esgueirar e servir de catapulta para um salto maior, um dia, quem sabe…

 

Mas tu escusas de fazer essa inveja enaltecer!

Eu invejo-te, sim, é verdade, mas de forma inspirada

Tu provocas invejas de uma forma desesperada

Eu inalo esperança, não o que perfumas

Tu perfumas cobiça, não o que eu respiro

 

Invejo-te porque sinto a empatia querer-te e tu nega-la!

Sinto a simpatia desejar-te e tu afasta-la!

 

Invejo-te pela dança que elas em ti embalam e tu desdenhas.

Venham até mim, que eu vos cuido sem inveja provocar!

 

Ana Mascarenhas