Mulheres de Sal!


Deserto árido, vegetação ausente, e as lágrimas do seu suor, são a água que bebem de Sol a Sol.
São mulheres que trabalham na escavação do Sal, escavam até não mais verem a luz do dia.
As suas pernas são o seu equilíbrio, a enxada o instrumento de trabalho, e o homem é o que traz a água, quando o suor não chega para matar a sede.
Pergunto-me tantas vezes? Porque nestas comunidades vejo frequentemente mulheres arqueadas, muitas vezes, com filhos às costas, outras, sentados junto a elas, e os homens apenas ficam a ver, ou vão buscar água para elas beberem?
Questiono-me sem mais ilusões, quantas são as situações em que vi um homem a trabalhar e a mulher a descansar?
Aqui nestas comunidades as mulheres trabalham, as crianças trabalham e os homens bebem para depois chegarem, comerem o que a mulher cedo preparou antes de ir labutar, e depois para a cama vão-se lambuzar, no meio das pernas já cansadas destas mulheres, que trabalharam de Sol a Sol e agora querem o descanso, mas apenas dão o pão e aquecem o varão.
O dia acordou novamente, aqui o Sol aquece cedo e ilumina de madrugada, por isso, mais um dia passa, o fogão já acesso para a comida ficar feita, de seguida a partida, lá vão elas para o deserto, descalças ou de chinelos, mas sempre na companhia das suas enxadas e dos seus tradicionais panos, com que tapam o corpo e a cabeça do Sol que aquece, à medida que o dia amanhece.
É assim que vivem estas mulheres, mulheres guerreiras, lutadoras, mulheres que colhem o que o diabo amassou, e no final do dia, já o Sol se escondia, mas continuam com um sorriso de uma inocente alegria, pois, vão para casa carregadas com o Sal que de dia recolheram, para fazerem pequenos montes e encherem os alguidares de cores fortes, e os levarem nas suas cabeças.
Afinal, este é o sustento das suas famílias.
O sustento do homem é à sombra a observar o tempo passar, e aguardar a mulher chegar, para depois penetrar nos seus seios ressequidos, já bem descaídos de tanto amamentar, não só o homem, mas também os seus filhos.
É a vida das Mulheres por estas bandas!
É a vida das Mulheres por estas terras!
É a vida das Mulheres do deserto!
É a vida das Mulheres de Sal!

Texto e Fotografia de Ana Mascarenhas