PREGUIÇA
Deitado vomito noticias paridas
do nada, pois não as leio, tenho preguiça
Dormito e acordo, coloco
o jornal na cara para o Sol não me queimar
Mas de nada vale, as
letras desse jornal, ajudam o Sol a peneirar o meu lençol
Troco do jornal para um
livro, aquele que cheira a sapiência, mas também não o leio
Apenas o abro para me
ajudar a esconder a cara da luz, ou até de mim próprio
Afinal, é esta preguiça
que me destrói, mas também me constrói, este meu vadio fardo
Esta displicência que
aprendi e com ela em toda a minha vida vivi, agora não sei como a acordar, pois
o sono acompanha-me, a preguiça respeita-me e o sonho alcança-me com quem
alcança o altar
Por isso durmo!
Durmo de chapéu, com
jornal ou sem ele, com ou sem livro, mas durmo
Durmo desalmadamente, e
quanto mais durmo, mais sono tenho, mas a preguiça encontra-me e respeita-me,
desenvolvendo em mim esta necessidade enorme de antecipar o sono eterno a que
chamamos morte, porque durmo continuamente tornando-me a pessoa mais ociosa do
universo sem saber sequer o que é viver!
Ana Mascarenhas