Prefácio ao livro (In)Confidências de Ana
Mascarenhas
Nunca conheci (pessoalmente) Ana Mascarenhas, que
não fosse pela leitura de duas das suas obras e através de comentários seus,
vertidos sobre as minhas notas insertas no meu perfil do Facebook. E, devo
dizer, com toda a verdade e propriedade, que os seus comentários me foram
valiosíssimos no contributo que deram para a melhoria da minha escrita poética
no uso que faço do pseudónimo Miguel Faia, sob o qual me atrevo, ainda que a
medo, a escrever este prefácio, a cujo pedido com alguma relutância, acedi, por
me julgar incapaz de o fazer.
Foi na qualidade deste pseudónimo – Miguel Faia –
que a autora me endereçou tão honroso convite para que lhe prefaciasse a sua
obra autobiográfica, onde me encontrei, com ela – com a vida dela – que se
dispôs partilhar com o público. Um público sempre difícil de conhecer e
avaliar, pelo julgamento que faz de nós, quando com ele ousamos dividir aquilo
que durante uma vida pensámos e exigimos apenas nosso, sem intrusos pelo meio;
aquilo que, quantas vezes, permaneceu fechado a sete chaves no mais íntimo de
nós.
HONRA, à coragem deste MULHER – ESCRITORA que tange
a alma do leitor, mesmo a daquele que a tem mais empedernida e que se julga
inviolável aos sentimentos alheios e imbatível nas suas decisões de granito de
não se deixar envolver e enlevar pela escrita – por uma escrita em que a
sensibilidade feminina é notória em todo o seu percurso, mas também firme nas
suas decisões – que feriu (no bom sentido) profundamente a minha alma com tão
nobre, sentida e firme partilha. HONRA à coragem desta MULHER – ESCRITORA que
dá a cara a um público desconhecido que hesita quantas vezes em nos ler, mas
que perderá uma excelente oportunidade na ausência da leitura deste livro de
Ana Mascarenhas, uma magnífica obra autobiográfica.
(In)Confidências é o auto retrato duma mulher corajosa em todos os
quadrantes da sua vida, que aqui se dá, mais uma vez, a conhecer. Uma escritora
de coragem e de talento que escreve como respira, que escreve com a força da
(sua) vida.
O acto de escrever sobre si e de si, desta
escritora, é de coragem e afigura-se-me como um difícil empreendimento, porque
é indizível o que senti ao ler o manuscrito desta sua obra. A partilha pública
da sua vida, desde os íntimos pormenores, àqueles que nos parecem de menor
relevância, mas que são tão ou mais importantes que os primeiros, enchem-nos de
uma certeza evidente e absoluta: esta MULHER – ESCRITORA, de força férrea, que
põe na sua obra a verdade da sua vida, num momento em que todas as certezas lhe
ruíam por terra, sai inquebrável e invencível, qual iceberg que não se desfaz pelas
mudanças climatéricas constantes a que o planeta terra está sujeito nesta
constante degradação.
Obra repleta de sensações e inquietações, as (In)Confidências de Ana Mascarenhas têm
alma, são palavras sentidas, nuas e cruas, palavras de verdade e com verdade que
não deixam insensível à sua leitura o mais duro e empedernido coração. MULHER –
ESCRITORA, MULHER – CORAGEM, sem fronteiras no pensar e no dizer que a não
inibe de tornar público o que vivenciou, o que passou, o que sentiu num mais ou
menos longo período em que a catástrofe nacional de maus governos constantes a
atiraram para o mundo do desemprego, atrevo-me a dizer, um “mundo sem fronteiras”,
ou antes, um mundo em que as fronteiras desse mundo (des)governado se dilatam
para lá dos limites do impensável, que a não coíbe de dizer o que sente pondo o
dedo na ferida e afrontando responsáveis de certos actos contra si e os seus
cometidos.
A coragem desafrontada de dizermos sempre o que
pensamos, a verticalidade que nos distingue dos demais, daqueloutros que estão
além da vulgaridade, porque destes últimos se torna desperdício falarmos,
duplica-nos o valor, redobra-nos a humildade mas a persistência audaz em
continuarmos não esmorece; e o mais nobre sentimento que despertamos nas
consciências daqueles que nos escutam, que nos leem, que fazem de nós
julgamentos justos, são os melhores louros que podemos colher. Terá sido isto,
tenho a certeza, que a escritora Ana Mascarenhas sentiu, que Ana Mascarenhas
doravante sentirá sempre que a sua veia criadora fluir para o nascimento de uma
nova obra, de um novo filho, não gerado no ventre mas concebido na vontade e
orientado pelas vozes do coração e da razão.
Teria sido, porventura, mais fácil para mim, falar
sobre o seu estilo, analisar por dentro a sua vasta obra autobiográfica,
qualifica-la com uma dúzia de adjectivos, mais ou menos bem elaborados a
enfeitarem um belo discurso. Não que a obra o não mereça e não lhe fazia favor
absolutamente nenhum: nem à obra nem à autora. Mas isso é o banal numa opinião
literária, ou “crítica literária”, como soe dizer-se. Mas não falaria eu, não
escreveria eu, com a verdade do coração; falaria com a verdade da razão. Numa
obra em que o coração se expôs, se expõe e se sobrepõe à razão, seria cometer
injustiça, para com a obra e a autora, falar do seu estilo literário – quando
ele é branco e flui com a naturalidade com que a água cristalina corre! Fico,
na certeza, de uma escritora que merece figurar nos escaparates nacionais e
ombrear com os melhores escritores. Aqueles que verdadeiramente o são!
Enfim… deixo ao leitor o franco sentimento que me
despertou esta obra e um conselho e desafio: prove-me que não tenho razão.
Miguel Faia (poeta)