Publicação na Revista Nº2 "a Chama folhas poéticas"
Novo Acordo Ortográfico
O Novo
Acordo Ortográfico para além de ser uma norma é, antes de mais, uma forma
de afirmação sobre a identidade de uma língua.
Ao contrário do que muito se diz e
escreve sobre esta matéria, o Novo Acordo
Ortográfico nada tem a ver com a perda de identidade ou a aproximação ao
Brasil. Antes pelo contrário, reforça a identidade de uma língua e, não de um
país, como muito se escreve, e, reforça, igualmente, a língua e a sua única
variante nos quatro cantos do mundo, pois, quanto mais pessoas falarem,
escreverem e lerem em português, mais rapidamente ela se difunde e poder-se-á
tornar a língua oficial de um determinado país. Assim, foi e é, também, através
desta norma que a língua portuguesa se tornou a quinta língua mais falada em
todo o mundo.
O Novo
Acordo Ortográfico visa, ante de mais, grafar de forma coerente a palavra em
concordância com a dicção da mesma.
Tornar-se-ia, imprescindível criar mais
variantes, para além da variante português do Brasil, dever-se-ia criar outras
variantes como, a variante português de Angola, a variante português de
Moçambique e, assim por diante, pois, como escrevi, tornar-se-ia mais fácil
fazer da língua portuguesa a língua oficial de cada país. Assim como existe a
língua inglesa de U.K, a língua inglesa dos E.U.A e, assim por diante, em
Portugal, também existe as suas variantes, infelizmente e, até então, apenas
uma, a do Brasil, ou seja, é isto que chamamos as variantes de uma língua.
Se tivermos em linha de conta que, a
língua portuguesa não é de Portugal, mas, de quem a fala, tornar-se-á mais
fácil a compreensão sobre esta temática das variantes. Se a língua portuguesa
fosse apenas de Portugal, seria apenas escrita, lida e falada em Portugal e por
portugueses, ora, não é esse o caso, pois, a mesma é lida, escrita e falada por
pessoas também, não portuguesas e, igualmente, por portugueses que habitam
noutras partes do globo. Assim, a língua
portuguesa é de todos a que a falam, lêem e escrevem no seu exato momento.
Faço uma analogia com os livros: Os
livros que escrevi foram meus até ao momento em que foram publicados, a partir
do momento em que os publiquei, deixaram de ser meus para serem de quem os lê.
Com a língua portuguesa o caso é semelhante, logo, a língua portuguesa é de quem a fala, de quem a lê e de quem a escreve
e, não apenas de um país.
Em relação ao facto, das pessoas menos
informadas afirmarem que, o Novo Acordo
Ortográfico revela uma perda de identidade e uma aproximação ao Brasil,
nada tem de verdade, passo a explicar:
Primeiro: Há muito que deixámos de
escrever a palavra “batizado” sem a consoante (-p) ou, até, a palavra “Vitor”
sem a consoante (-c) e, nunca ninguém contestou. Se soubermos que as únicas
consoantes que “caem” são a (-c e a -p) e, apenas quando não são pronunciadas, está
meio caminho andado para uma plataforma de entendimento sem falsas especulações.
Obviamente que, outras alterações há, como grafar em minúsculas os dias da
semana ou até os meses, mas, pelo que tenho lido e ouvido, esta perda de
consoantes é a que tem suscitado maiores dúvidas, logo, más interpretações por
as pessoas não estarem devidamente informadas. É muito fácil apontar, é muito
fácil dizer: não concordo, no entanto, torna-se imperativo dizer porque é que
não se concorda e, quando se explica o porquê dessa não concordância convém,
antes de mais, validar a mesma com base em factos e, não apenas em
(des)informação.
Por exemplo: a palavra “facto” continua
a grafar-se em Portugal com a consoante (-c), isto porque, a mesma é
pronunciada, já no Brasil e, por a mesma não ser pronunciada, a palavra
correspondente ao mesmo significado
é a palavra “fato” sem a consoante (-c). Outro exemplo é a palavra “fato” sem
(-c) que, continua a ser grafada em Portugal sem o (-c) por a mesma não ser
pronunciada, no entanto, no Brasil a palavra com o mesmo significado é “Paletó”. Como facilmente se pode constatar, em
nada nos aproximamos ao Brasil, apenas criamos normas de grafia de acordo com a
dicção de cada país.
Fernando Pessoa escreveu:
“A
minha pátria é a língua portuguesa”
Esta frase aparentemente complexa, acaba
por ser simples. Fernando Pessoa afirma que, a sua pátria não é Portugal mas, a
sua língua, independentemente se está em Portugal ou, se é português, neste
caso, foi (é) português.
Esta frase refuta também, afirmações
como tenho lido e ouvido que, estamos a esquecer os nossos poetas, antes pelo
contrário, estamos a dar razão ao que este grande homem da geração “Orpheu” em
tempos já afirmou. A sua pátria é a sua língua, é a língua que no exato momento
fala, escreve e ouve.
Muito mais haveria para explicar sobre a
evolução de uma língua, através da sua rápida difusão histórica. Por isso e,
como costumo dizer… a única constante é a mudança, há que mudar para evoluir…
Ana Mascarenhas