Discurso
de Apresentação do Livro “Vazios da
Escrita”
Boa tarde!
Antes de mais quero agradecer à “EdiumEditores” e, mais concretamente na
pessoa da Isabel Fontes, pela oportunidade que me deu neste desafio referente
ao meu terceiro livro, bem como, agradecer a amabilidade do Miguel Real por
fazer o prefácio sobre o respectivo.
Como não podia deixar de ser, quero
agradecer, igualmente, ao Sérgio Luís de Carvalho por ter aceite fazer a
apresentação do “Vazios da Escrita”
e, por último, mas não menos importante, antes pelo contrário, agradecer a
presença de todos Vós pois, sem ela, este evento não seria possível, são todos
Vós leitores que, me permitem estar onde estou, que me permitem ser o que sou e
viver o que vivo, por isso…um grande bem-haja.
O livro “Vazios da Escrita” acaba por ser a continuidade do livro “Em Carne Viva”, o segundo já editado, no
entanto e, pese embora reflicta também ele a sociedade, este incide mais no crescimento
interior da pessoa.
Se me permitem, gostaria que
reflectissem um pouco sobre este dia pois, acredito que nada acontece por
acaso…
A Revolução de 28 de Maio de 1926 pôs
termo à Primeira República Portuguesa, levando à implantação da auto-denominada
Ditadura Nacional, depois transformada, após a aprovação da Constituição de
1933, em Estado Novo, regime que se manteve no poder em Portugal até à
Revolução dos Cravos de 25 de Abril de 1974.
Passados 85 anos depois da Revolução de
28 de Maio, parece estarmos a viver novamente, não um Estado Novo mas, um
Estado usado, podre, velho, arruinado e também camuflado…
Há 85 anos atrás eu não poderia publicar
este livro, nem este nem muitos outros, não poderia falar nem escrever
livremente, passaríamos fome, muitos emigravam para viver e muitos eram
detidos…mas, nunca o país esteve em divida, falência ou insolvência.
Hoje eu posso publicar este livro, tenho
a liberdade de expressão mas… a fome continua, a emigração também e, ao
contrário do que possam pensar, continuamos presos… detidos numa prisão sem
grades, uma prisão dita globalizada em que a Europa são as grades e a Alemanha
o mandatário. O país está em dívida permanente e em estado de falência,
caminhamos para um abismo em que os crimes de colarinho branco saem impunes, o
povo continua calado a aceitar e eu pergunto: Porquê?
Porque infelizmente houve muita gente
que confundiu a palavra Liberdade com libertinagem.
Não soubemos vingar o 25 de Abril,
existe uma pobreza camuflada, muitas vezes extrema, envergonhada, existe uma
emigração forçada, a liberdade de expressão transformou-se na liberdade de
ofensas e descrenças, hoje tudo se pode e nada se consegue, qual a diferença?!
As grades invisíveis e um país em dívida e à beira da falência… provocando a
injustiça social que sempre houve, mas hoje, não é denunciada pela força mas
pela vergonha…logo, novamente o não está implícito…
Tenho receio por mim, pelos meus filhos,
aliás, como nós todos tememos pelos nossos, ligamos a televisão e vemos
reportagens que nos afligem, ouvimos notícias que nos fazem temer, meditar,
divagar… pensamos: Isto não acontece connosco… enganem-se, para construir
demoram-se anos, para destruir apenas um milésimo de segundo…
Por isso, digo: é importante, muito
importante que saibamos vingar o 25 de Abril com honra, pois, ele só existiu
porque houve um dia… o 28 de Maio de 1926…
Comecei este discurso dizendo: nada
acontece por acaso…
Pois é, hoje dia 28, 85 anos após a
Revolução de Maio posso publicar um livro, posso escrever, falar, sorrir, mas…
o que não posso é mostrar a pobreza que sempre houve e a dívida que
nunca existiu, isso é o que eu não posso…
Agora, e, deixando de parte estas pequenas
considerações político-sociais e, também, a pedido de várias famílias, fica
desde já prometido, mas apenas para 2012 o tão famigerado romance. Estou
neste momento a desafiar-me num romance, pois os três livros agora publicados
são escritos em prosa poética e poesia narrativa, desta feita será, então o meu
primeiro romance. Trata-se de um romance que será diferente e único, pois
retrata numa única pessoa situações que devem ser denunciadas por todos nós,
como a mutilação genital, a violação, a lapidação, a barriga de aluguer, o
tráfico de órgãos humanos, o rapto, as minas, o infanticídio feminino, enfim,
todos os males que existem numa sociedade dita global. Estou numa fase final,
mas para já…
Espero que se deliciem com os “Vazios da Escrita” e que este Vos
preencha a Alma com letras sentidas…
Não queria terminar sem ler um ou dois
textos e dizer um “Obrigada” à minha família e ao meu falecido pai.
Propositadamente deixei este agradecimento para o fim, pois são eles o meu
alicerce.
Obrigada!
Ana Mascarenhas
Lisboa, 28 de Maio de 2011