Fecho os olhos
Oiço a música
Ela em mim cresce, floresce
Bolero!
O som levemente perscrutado pelos meus ouvidos
Segue na direção do meu cérebro e este apenas o dirige para
o meu corpo
Uma vez mais, Bolero!
De olhos vendados e sentidos apurados, Bolero fecunda-me a
Alma
Invade-me o corpo e dele faz o seu palco, o seu recinto de
melodia
Com ele os meus braços acenam suavemente como asas de borboletas
Que espantam o vento, mas não a ventania… é tudo muito
suave… a música toca
Toca ainda no seu estado mais puro, as batidas são
delicadas, por isso o corpo dança
Balança com pés de veludo, sem machucar, sem esvoaçar
A batida aumenta, os sons esventram-me o corpo, e nele tudo
estremece
Os sentidos tendem a explodir, a música força-me a sentir
É uma vez mais, Bolero!
O delicado passa a excessivo, entro em erupção, entro em
completo transe, explosão
A música torna-se insolente, descarada, metediça, e sem
licença pedir, penetra-me no corpo e dele faz o seu coito, o seu prazer…
sentir, apelar e saborear o que é bom de ouvir…. Bolero!
Sim, Bolero de Ravel, a balada que aumenta o prazer de
sentir ao ouvir tamanha melodia.
Ana Mascarenhas