Vídeo do Lançamento do Livro "Silêncio Denunciado"

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Sessão de Autógrafos

Sessão de Autógrafos do Livro "Silêncio Denunciado"






Discurso do Lançamento do Livro "Silêncio Denunciado"



Boa tarde!

Em primeiro lugar quero agradecer a Vossa ilustre presença. Agradecer, igualmente, ao meu editor e amigo, Diego e, como não podia deixar de ser, agradecer ao Miguel Real por ter aceitado apresentar o livro Silêncio Denunciado. Agradeço, também, ao Hotel Real Palácio pela cedência deste maravilhoso espaço que nos permite estar hoje, aqui. Por isso, Obrigada!

O livro Silêncio Denunciado é um romance, mas, e, como tenho referido várias vezes, não é um romance cor-de-rosa, aquele que nos faz sonhar, aquele que nos faz brilhar, aquele que nos atrai pelos seus finais felizes, não! Antes é um romance interventivo. Um romance que nos faz chorar ao invés de sorrir, que nos faz pensar e também refletir.

É um livro que revela ou melhor, denuncia práticas abusivas de várias sociedades, de vários países, de várias culturas, de várias gentes, de várias religiões, crenças e idades, enfim, é um livro que denuncia um mundo que se diz globalizado. Pergunto: Globalizado por quem? Pelo quê? De que forma? À custa do quê ou à custa de quem? Não sei! E, por não saber, achei que tinha o dever de acusar revelando vários males que se intitulam em determinadas sociedades de culturais, outras de religiosas, outras ainda apelidam-se assim por questões puramente económicas, encobrindo a realidade, a natureza humana, por isso, denuncio de forma acutilante, se assim o entenderem, o que acho deve ser, também, uma forma de literatura, aquela que intervém e que chama à razão. 

Vou por isso, começar por Vos ler algo que em tempos comecei a escrever, mas, apenas terminei agora, há poucos dias, escrevi o que me impressionou, o que ainda me afeta e perturba bastante. Um texto que reflete um pouco o teor do livro Silêncio Denunciado mas, na versão masculina. 


Nasci em Londres e tenho apenas oito anos.
Hoje fui com o meu pai ver uma luta de cães.
Não sei qual o seu entusiasmo, o que ele sente ao ver dois animais a debaterem-se pela vida. Só sei que sinto o cheiro da dor, o odor do sangue… apetece-me vomitar e, por momentos julguei que o vómito ganhara o seu dia, mas, ainda fui a tempo de travá-lo.
O meu pai gritava euforicamente como se uma luta entre dois indefesos animais fosse a única razão da sua alegria.
Queria à viva força compreender este mundo de atropelos em que os adultos instigam a violência e fomentam gratuitamente esse estado de espírito, como se fosse um alimento da Alma, como se fosse o saciar da fome.
Juro! Juro que tentei percebê-lo, a ele e a tantos outros que, pelos mesmos ou semelhantes motivos ali estavam. Infelizmente, não compreendi. Ainda me questionei se não era a minha tenra idade que me limitava de algum modo essa total compreensão sobre os adultos, mas, se fosse, então, quereria ser eternamente criança, pois, esse mundo assusta-me, aterroriza-me.
Acordo destes pensamentos quando oiço grunhidos e vejo os animais a sangrarem e a agredirem-se brutalmente instigados pelos seus próprios donos. Sei que apenas um será vencedor e choro. Choro por sentir não só as dores de um, mas as dores de ambos. Sinto a minha pele a arrepiar-se, dói-me o corpo, mas, acima de tudo, dói-me a Alma.
Sou filho de gente má, serei eu mais tarde, igualmente, mau? Fecho os meus olhos! Quero pelo menos acabar com um dos meus cinco sentidos, a visão. Assim, pelo menos, apenas oiço e sinto através do cheiro e da dor, tateio o sangue que me salpica para a boca, colocando apenas a visão como sentido ausente no meio de tanta crueldade e confusão.
O jogo acabou! Não sei quem ganhou ou perdeu!
Apenas sei que uma luta não só alimentou os bolsos desta gente como, também, alimentou as suas vergonhosas Almas, as suas tristes vidas.
Chegámos a casa e nada disse durante a viagem de regresso. O meu pai falava alto, gargalhava e partilhava comigo alguns momentos sobre a luta de cães através de pequenos comentários. Queria fazer de mim um homem, dizia ele. Estes eventos fariam de mim um homem, não um maricas, estas lutas que o entretinha nas horas vagas seriam, também elas, o meu entretenimento, dizia o meu pai, uma vez mais.
Eu calado e amedrontado ouvia sem nada manifestar. No fundo era o meu pai, aquele que me veste, alimenta e me dá um teto, logo, o meu dever será respeitá-lo não só enquanto pai, mas, também, por ser mais velho. É minha obrigação agradecer a vida que me deu, a existência que me dá.
Adormeço a pensar neste dia, naquelas horas que deveriam parecer a eternidade para aqueles animais e, sonho…


Estou no meio de um ringue com um outro rapaz. Parecia ter a mesma idade que eu, a estatura era semelhante e, curiosamente, estava também ele vestido com uns calções, muito parecidos com os meus. Olho à minha volta e vejo no rapaz o meu espelho. Assustado mas sem o querer demonstrar, colocava a sua agressividade no centro da sua defesa. Não conseguia perceber porque nos encontrávamos ali, apenas me lembrava da luta de cães, dos aplausos dos adultos, do dinheiro a circular, das gargalhadas, dos gritos e nomes… e, por momentos, revejo-me na pele desses pobres e indefesos animais.
O meu pai do outro lado do ringue olhava-me instigando-me à luta como forma de diversão. De repente senti um empurrão. Era o meu espelho, o outro rapaz que do nada iniciou uma luta comigo. E, eu sem saber porquê acatei os seus empurrões, os seus braços de ferro, o seu peso sobre o meu corpo. Queria livrar-me dele, queria perceber o porquê desta gratuita agressão, mas não consegui. Encolhi-me e tapei os ouvidos para não ouvir os gritos, os aplausos, a alegria e a euforia que se soltavam dos adultos. Encolhi-me mais ainda para não sentir a dor dos murros que iam de encontro a mim. Chorava, queria sair dali. O ar começara a faltar-me, os porquês atropelavam-se sem resposta e o meu pai gritava comigo sem eu saber, uma vez mais, porquê.




 Dou um pulo da cama e acordo suado, imundo em urina. Acordei de um sonho da noite porque o vivi de dia, foi o reflexo do meu dia anterior. Tentei novamente adormecer, mas não consegui.
A manhã acordou e com ela o meu pai também. Disse-me que hoje o dia seria diferente, único e inesquecível. Disse-me para vestir uns calções e besuntar o corpo com óleo. Não entendi o porquê deste pedido, mas sem discussão acatei curioso. Sentámo-nos à mesa e começámos a comer um verdadeiro pequeno-almoço britânico. Precisava de forças, dizia o meu pai. Terminámos e saímos. Fomos diretos para o carro e partimos. Não sabia para onde o meu pai me levava, talvez, novamente para aquele celeiro antigo e com cheiro a morte, onde estivemos ontem para assistir a mais uma luta de cães. Se calhar desta vez seria de galos. Sim, é verdade! O meu pai também já me levou a uma, e é muito semelhante, cruel e bárbaro.
Chegámos! Chegámos, efetivamente, a um celeiro, aparentemente abandonado… saímos do carro e lá fomos os dois. Entrámos e vi algo muito semelhante ao dia anterior. Muitos homens, muito dinheiro a circular, muitos berros e aplausos, no entanto, notei algo de diferente, havia muitas crianças, mais do que o habitual, havia também muitas mulheres, talvez as mães daquelas crianças. Quando nos aproximámos do ringue, fiquei estupefacto. Vi duas crianças de idades semelhantes à minha a lutarem feitos animais. Uma luta entre dois pequenos seres racionais e, estimulada pelos grandes animais, também eles, racionais… dizem eles…
O meu pai chama-me e diz-me: Vai! É a tua vez! Dá-lhe com força. Besuntaste-te bem, certo? Assim ele terá mais dificuldade em agarrar-te. Apostei tudo em ti, não me desiludas. Sairás daqui um homem e, com o dinheiro que aqui ganharmos poderás comprar tudo o que quiseres.
Estou sem palavras! O meu pai! O meu próprio pai! Como é possível?!
Agora tudo está claro para mim! O meu sonho não foi em vão! O meu pai acordou esta manhã e disse-me que este seria um dia diferente. Efetivamente é um dia diferente. É o dia em que percebi que o meu progenitor não é mais do que isso, apenas um progenitor. Efetivamente percebi que devo respeitar o meu pai, mas, para eu o respeitar ele deve, igualmente, saber respeitar-se e, para isso deverá respeitar-me, não só como filho, mas também como criança.
Decidi colocar um ponto final àquela ridícula situação. Entrei para o ringue e calmamente dirigi-me para o meu suposto adversário. Pisquei-lhe o olho e ele rapidamente percebeu onde queria chegar. Demos um aperto de mão e virámos as costas aos adultos. Saímos do ringue e dirigimo-nos para fora do celeiro. Lá fora, respirámos o ar que nos alimenta e sentimos a liberdade de sermos crianças.
Decidimos não lutar para alimentar o ego daqueles que se intitulam nossos pais, mas apenas são monstros vestidos de pais. O ser humano ultrapassou todos os limites do bom senso e da razoabilidade. Nós seremos os adultos de amanhã, logo, jamais permitiremos que os adultos de hoje façam de nós os monstros que eles hoje são.
Corremos e corremos. Corremos até mais não. Sempre, sem parar, até as forças nos faltarem. E, quando parámos decidimos os dois ir viver para bem longe dos nossos pais. Assim foi. Cedo crescemos, sem estudos ou mordomias, mas humanos nos tornámos, porque o pão nos faltou, a roupa também, o teto foi o céu e a cama foi a terra, mas a educação que a mãe natureza nos deu foi melhor que a que os nossos pais nos queriam dar.
Decidimos, assim, não ser o alimento dos seus egos e muito menos dos seus bolsos, mas, efetivamente, decidimos de igual modo, tornarmo-nos realmente ao que apelidamos de… humanos.

Ana Mascarenhas
02 Mai 12






 Nota:
Texto baseado num documentário que vi na televisão no dia 23 de Setembro de 2011. Um documentário que revelou, de facto, uma história passada em Inglaterra exibindo uma luta entre crianças fomentada pelos próprios pais. Foi nesse mesmo dia que comecei a escrever este texto, mas, e, como estava a escrever, igualmente, o livro Silêncio Denunciado, acabei por não o terminar. Terminei hoje, dia 02 de Maio. Agora que o livro vai ser lançado, a minha mente decidiu por breves momentos regressar às incongruências da vida, esta é mais uma, entre tantas… infelizmente… 



E, aqui está! Um texto que, como disse, é o reflexo do livro Silêncio Denunciado mas, na sua versão masculina. Espero que Vos tenha impressionado tanto quanto a mim. Que Vos tenha perturbado não só porque é real, acontece aos nossos olhos e ninguém faz nada, mas, porque, também, tem-se o desplante de aplaudir este tipo de práticas numa sociedade que se diz evoluída, afinal, Inglaterra não é tão longe assim. E, como esta, existem outras, muitas outras que todos sabem, veem, ouvem, mas… pergunto: Será que sentem?! Deixo a pergunta no ar… cada um responderá por si.

A todos os que aqui estão e, àqueles que gostariam de estar mas por razões várias não puderam, desejo um grande Bem Haja!

Antes de terminar gostaria apenas de fazer o meu último reconhecimento.
O meu agradecimento à minha família e ao meu falecido pai.
Obrigada!

Ana Mascarenhas

Entrevista sobre o Livro "Silêncio Denunciado"





Entrevista de Diego Martinez Lora a Ana Mascarenhas sobre o seu recente trabalho.
"Silêncio Denunciado"


1.      Como surge a ideia de escrever este seu último livro Silêncio Denunciado?

A ideia surge numa forma de repensar a literatura como figura interventiva. Há já algum tempo que comecei a ler os textos publicados nos dois últimos livros e denotei inconscientemente textos que denunciam algo que, na minha forma de estar na vida, são completamente irreais… se assim posso chamar…

2.      O que é que este livro traz de novo ou de particular comparativamente aos outros livros que já publicou?

Traz um tudo e um todo. Começa por ser uma única narrativa ao invés de várias como constam nos livros anteriores. No entanto, se eu refletir melhor, o livro Silêncio Denunciado também pode ser visto como tendo várias narrativas, uma vez que os seus capítulos, embora com um sequência lógica, revestem vários males das várias sociedades. E, é precisamente devido à sua sequência lógica que o livro Silêncio Denunciado acaba por fazer parte do universo literário romancista.

3.      Que novos desafios enfrentou ao escrever Silêncio Denunciado?

Alguns! O maior foi, talvez, a estrutura da obra em si. Sabia que queria escrever sobre todos os males que habitam no mundo, mas, sabia ser impossível, assim, acabei por dedicar-me àqueles que mais me tocam em particular, talvez pela forte presença, ainda, destes males nas várias sociedades. No entanto, também, não posso deixar de denunciar que, vestir o papel de uma personagem que se revê em várias foi o maior desafio. Queria que o livro fosse intenso, provocasse emoção e, ao mesmo tempo, não queria desenvolver muitas personagens, logo, teria que estruturar muito bem a obra, de forma a que o leitor quando a fosse ler, percebesse que uma única personagem poderia representar várias, sendo ela própria divisível através da procriação…por outro lado e, como é evidente, acabei por abraçar da(s) personagem (ns), aquela dor mais acentuada. Aquela que todos sabem que existe, mas calam…


4.      Como está estruturada a obra?

Como referi, a obra está estruturada por capítulos que antevê uma narrativa formada por uma sequência lógica na história apresentada. Cada capítulo representa um tema e, em cada tema pode ser facilmente identificado a origem da dor incluída no próprio tema. Ou seja, existem algumas particularidades na narrativa de cada capítulo, que antevê se o mesmo se passa, por exemplo, na Índia, na China, em África, Europa ou, em que Continente a atrocidade em si é mais (in)visível. Escrevi (in) porque, efetivamente, a atrocidade é visível, mas nós, humanos teimamos em torná-la invisível.




5.      Quais são os personagens principais de Silêncio Denunciado?

Eu diria que existem três grandes personagens principais: A mãe de Alma, a Alma e o pai adotivo de Alma. No entanto e, como referi anteriormente, a Alma representa em si várias mulheres das várias sociedades, incluindo, como é óbvio, a sua própria mãe que, apesar de ter sido lapidada foi quem deu corpo à obra…

6.      Qual é a distância (ou proximidade) entre a autora, a narradora e as personagens, uma vez que por vezes se tornam quase indistinguíveis nos sentimentos que expressam?

É natural que a distância seja praticamente nula na maneira de sentir, no entanto, e, devido à proximidade física ser o reflexo da distância geográfica, é natural que haja uma certa diferença, uma vez que estou apenas a descrever o que supostamente sinto, mas não sinto, porque não vivi, realmente, nenhuma das atrocidades reveladas na obra. Diria que, me aproximo como autora e narradora dos sentimentos mas, também, me distancio não só geograficamente, mas, porque apenas suponho sentir o que deveria sentir se vivesse o que narrei…

7.      Acha que aquilo que denuncia é claramente injusto e desumano aos olhos de todos?

Hesitei muito nesta resposta. Ao princípio pareceu-me bastante lógico responder afirmativamente. Afinal, somos humanos e a dor alheia faz-me (nos) doer, também. No entanto e, depois de refletir um pouco percebi que, se fosse claramente injusto e desumano aos olhos de todos, não haveria a necessidade desta obra ter nascido. É óbvio, claro e inequívoco que a justiça não é absoluta, a verdade também não, no entanto, existe um sentimento que é comum e atrevo-me mesmo a dizer, absoluto, é ele a dor, logo, sendo a dor absoluta, pese embora sentida de diversas maneiras em diferentes seres, o que é um facto é que não deixa de ser dor, assim, denunciar as atrocidades que determinados seres provocam em outros seres, mesmo aqueles que nada fazem mas sabem que existe, torna-se imperativo, caso contrário, esta obra não teria nascido…

8.      Em Silêncio Denunciado aparece quase todo o tipo de sofrimento por que passam muitas mulheres pelo mundo fora, descrito através das poucas personagens do livro, sem que se detenha muito com detalhes geográficos e históricos. Quer com isto dizer que o sofrimento é universal e que todos temos a nossa quota-parte de culpa nessa partilha silenciosa?

Sem dúvida! O sofrimento sendo um sentimento é único e universal, também. Todos temos a nossa quota-parte de culpa em todo e qualquer sofrimento alheio, no entanto, a ausência de detalhes prende-se, essencialmente, com o facto de eu querer chamar à razão o que é realmente importante. Receei, confesso, que, os detalhes aflorassem a obra, tornando-a menos dura e, o que pretendi foi, precisamente, dar um murro no estômago, denunciar sem falsas modéstias um falso moralismo, sendo direta, assertiva e consistente.




9.      A sua definição de literatura tem vindo a mudar desde que começou a escrever os primeiros textos?

Sem dúvida! Pese embora a base esteja lá, o meu cunho pessoal seja indiscutivelmente inconfundível, o que é certo é que, a minha escrita tem-se revelado mais acutilante. Desafio-me a ser menos discreta, se é que algum o fui, pelo menos com as palavras, mas, acima de tudo, desafio-me a ser mais ofensiva sem ofender, agressiva sem agredir, desafio-me, inclusive, a provocar as palavras para elas abanarem mentalidades, ou seja, provocar no sentido de despertar, de desafiar o ser humano, a sua reputação, a sua imagem, tornando-o frágil, quebrável…
Encontrei na literatura não uma definição, mas, antes uma revelação, uma nova forma de agir, ser e estar… atuar interventivamente através da escrita foi o que descobri em mim sem procurar…

10.      Que novos projetos tem em mente?

Tantos e tão poucos! Muitos e nenhuns…
De facto, parece um paradigma o que acabei de escrever, mas, a realidade é que tenho estado imersa em vários projetos, nomeadamente, numa autobiografia, num livro de citações próprias, numa biografia de uma determinada personagem, num livro de poesia, mas… enquanto não concluir pelo menos um, posso dizer que estou absorvida em muitos e em nenhuns ao mesmo tempo e, também, tantos, porque de facto, são alguns, mas, poucos para o que pretendo ainda fazer…


11.      Que tipo de reação antevê dos seus leitores a este novo livro Silêncio Denunciado?

Esta é a pergunta mais difícil de responder. Não sei! Talvez uma reação semelhante às anteriores obras, uma vez que o meu cunho, como já referi, nunca esteve ausente… mas, acrescento que, a expectativa é alguma…

Apresentação por Miguel Real

Apresentação do Livro "Silêncio Denunciado" por Miguel Real








Apresentação por Diego Martinez Lora

Apresentação do Livro "Silêncio Denunciado" por Diego Martinez Lora




Prefácio do Livro "Silêncio Denunciado"





Quando tive a honra de ser convidado a ler estes textos antes de serem editados, deparei-me com a dificuldade que todos temos de encarar/enfrentar estas realidades, que de tão grosseiras, são incompreensíveis. Nenhum destes temas que Ana Mascarenhas nos traz é de fácil leitura, muito menos compreensão, mas é um sério alerta para que não deixemos que continue a acontecer em qualquer parte do planeta escondida por uma falsa justificação religiosa ou tradicional, está na hora de todos os seres humanos se unirem a favor de uma erradicação deste tipo de comportamentos que em nada dignificam o ser humano.
As crenças são sem dúvida a alma de um povo e por conseguinte do ser humano, o que só por si pode ser elucidativo e pode de alguma forma explicar as atrocidades que ainda se cometem contra as mulheres, contudo não podem nem devem ser justificação para tais atos.
Atrocidades, que incompreensivelmente continuam a fazer parte de algumas culturas e que deveriam ser erradicadas, não com atos evasivos ou violentos ou ainda condenativos, mas reeducando alguns item’s destas culturas, nomeadamente no respeito a ter pela mulher.
As tradições a meu ver são a forma de perpetuar, os erros dos nossos avós sem questionarmos o porquê dos mesmos. Na geração dos meus pais, algumas mulheres não tinham voto na matéria sendo por vezes agredidas sempre que algo não corria como o “chefe de família” queria, não foi há tanto tempo assim e ainda hoje muitos adolescentes pensam desta forma pelos exemplos que vêem e que lhe são transmitidos.
Em 2010 o número de denúncias de violência doméstica contra as mulheres era de 31.235, sendo que em 2008 o número de mulheres mortas por violência doméstica era de 40 e em 2011 quase que duplicaram.
As atrocidades cometidas vão desde a simples expulsão da família ao apedrejamento, queimadura com ácido, corte do clítoris, desfiguração do rosto, escravatura e assédio sexual, como se de um ser amorfo se tratasse, sem dor e sem sentimentos, como se não fosse um ser humano, como se o homem fosse dono e senhor da sua existência.
Este livro traz à luz tudo o que de pior existe no nosso íntimo e nos afasta dos outros animais.
Somos os únicos animais que odeiam outros da mesma espécie e razões não faltam, odiamos seres humanos de outros lados do planeta, odiamos seres humanos de outras cores, odiamos seres humanos de outras religiões, odiamos seres humanos que não pensam como nós, como se nós fossemos a essência da sabedoria universal. Inventámos religiões e guerras, conseguimos ser o melhor e o pior do planeta. Está na hora de nos unirmos para dizer “já chega”, “basta”, sejamos apenas… humanos.
“Silêncio denunciado” é uma homenagem a todas as mulheres que padeceram e padecem perante a ignorância, o ódio e a insensibilidade.

Luís Fernando Graça
Artista Plástico
editor/director administrativo da Revista Novos Talentos

Palavras Prévias do Livro "Silêncio Denunciado"


Por vezes palavras tão simples conseguem alimentar a nossa alma,
fazendo delas o nosso refúgio, mas, também, a nossa maneira de estar na vida,
a nossa postura perante a sociedade e a nossa vivência perante o mundo, por isso,
é preciso coragem para calar até o próprio silêncio,
porque o silêncio não cala, mas sente…

Ana Mascarenhas


Palavras Prévias
Não vou mentir! Estas palavras compiladas agora em livro custaram-me muito a escrever, houve momentos em que tive que parar porque a personagem que estava a compor me fazia doer, sentia-a como se fosse eu, vivia-a e por isso, obrigava-me a parar, para sair da história, porque a dor era grande, imensa… logo, não é um livro cor-de-rosa, mas também não é um livro de ficção, embora os seus factos sejam histórias contadas, vividas e presenciadas por muitos, foram sempre silenciosas, assim, antes é, uma literatura de intervenção, um apelo ao grito, mas não aquele que é calado e sim àquele que se ouça, ou se faça ouvir, nem que seja no silêncio da noite, mas é uma súplica, um pedido, uma história com várias histórias, por isso, é uma vida que representa várias vidas, em vários locais e com várias práticas.
Não foi necessário nomear nenhum País, nem um Continente, muito menos uma Fronteira, porque os Quatro Cantos do Mundo estão presentes pelas suas práticas, costumes e ditas culturas, pelas suas atrocidades, hábitos e dores, pelos seus habitantes, pelas suas terras, pelas suas vestes e pelos seus odores.
Também não foi necessário criar muitas personagens, uma representa o tudo e o todo. Representa a Vida dita Humana, o Sonho e a Besta, a Realidade e a Frontalidade, a dor, o sofrimento, a luta, a conquista, a desordem ou o caos. Representada pela sua vida, a oposição é o seu sonho, a Grandeza e a mesquinhez, respectivamente.
Não evoluímos, nada crescemos, nada compreendemos e quando me dizem que muito se fez, que a evolução humana se concretizou, ou… vai-se concretizando, apenas fico a pensar, questionando-me, frontalmente: será?! Não acredito! A evolução apenas se dá de forma materialista, o crescimento desenvolve-se de aparências, joga-se com as vidas e confunde-se Cultura com dor, com flagelo e prazer de ver sofrer.
Por isso, o poder continua instituído, o poder sobre os mais frágeis, a ganância, a arrogância, o facilitismo e a mentira. São tudo estados que habitam nos vários Estados, uns de uma maneira, outros de outra, uns através de práticas ditas culturais e outros apenas por maldade, pelo simples facto do prazer se fazer através da dor alheia.
Onde está a evolução humana? Na substituição da máquina pelo homem? No poder sobre os mais frágeis? Nas diferenças ditas culturais mas que não passam de desculpas esfarrapadas para que o poder não lhes seja retirado? Onde?! Onde é que evoluímos? Em nada!
Não soubemos e continuamos a não saber crescer como pessoas, não soubemos e continuamos a não saber fazer jus à palavra “humana”, aquela que se diz racional mas que consegue ser mais Besta que a própria Besta.
Afinal somos isso mesmo, Bestas apelidadas de Humanas. Somos a vergonha porque tudo sabemos e nada fazemos, porque tapamos os olhos e os ouvidos, porque viramos a cara quando nos faz doer, porque todo o mal que acontece não acontece por perto ou connosco, porque somos assim, egoisticamente comodistas…

Ana Mascarenhas

Convite "Silêncio Denunciado"


A autora Ana Mascarenhas e Diego Martínez Lora têm o prazer de o/a convidar, à família e amigos(as) para o lançamento do seu quarto livro, primeiro romance intitulado "Silêncio denunciado".

O evento será realizado no sábado, dia 12 de Maio, pelas 18h30 e irá ter lugar no Hotel Real Palácio, Rua Tomás Ribeiro em Lisboa.

O livro será apresentado pelo escritor, ensaísta e professor de filosofia Miguel Real.

Vídeo "Artes e Cultura" da RDP Internacional


O Vídeo da Entrevista do Programa “Artes e Cultura” de Jaime Ferreira de Carvalho da RDP Internacional já se encontra disponível. Basta clicar no lado direito do blogue, na opção “Entrevista Digital a Ana Mascarenhas” e, selecionar a opção “Entrevista no Programa Artes e Cultura da RDP Internacional”. Ou, poderá clicar no link em baixo da imagem e ouvir a entrevista na sua totalidade. Obrigada!




Ana Mascarenhas na RDP Internacional


Ana Mascarenhas esteve no dia 10 de Maio de 2012 no programa de Jaime Ferreira de Carvalho, Artes e Cultura da RDP Internacional para falar sobre os seus livros e a cultura em geral...









Entre outros textos, leu um texto do seu segundo Livro Em Carne Viva dedicado às Vozes da Rádio


De novo a história do carro.
De novo a inspiração na condução.

Se pudesse escrever tudo o que pela minha mente passa enquanto conduzo, não haveria papel nem tinta que chegasse para preencher o vazio que sinto, por nada poder escrever e apenas conduzir. E enquanto conduzo reparo que novo hábito se instala em mim, será da idade ou será mesmo assim?


Agora, as músicas que outrora aprendi a escutar, escuto-as igualmente, mas com pausa de rádio na mente. Sim, mas não é uma pausa qualquer, é um intervalo na música para dar lugar à voz.

Oiço e imagino, sinto também, que são vozes de rádio, vozes sem cara mas com corpo, vozes com palavras e posturas próprias, de modo a deixar correr a imaginação, como será aquela criatura, como será aquela viva alma que dá vida à rádio de corpo sem corpo.

Ao ouvir vozes bonitas, gargalhadas contentes, sorrisos com vontade e alegrias partilhadas, penso para mim: “utópico dizer, mas como se consegue através de uma voz, transmitir a visão dos gestos que esse corpo de voz se faz sentir e ver também?”

Consigo ver a voz e não apenas ouvi-la, consigo senti-la e não apenas escutá-la, fantástico mesmo. Mas eu, eu não tenho uma voz bonita, não tenho a sapiência dos convidados nem tão pouco sou conhecida pelo que apenas sou, porque haveria eu de ser alguém, ou igualmente ter voz que ouve, sente e vê? 

Imagino a que cara pertence determinada voz sem rosto, imagino o que poderia aprender com ilustres convidados que vivem da erudição de uma vida intensa em estudo e, igualmente em sabedoria.

A conclusão é aterradora, pois não tenho uma voz marcada, nem uma presença firme, quanto mais a sabedoria de alguém que sabe ser a cultura e a perícia, de uma vida de esforço e determinação, a mais que não seja, por uma luta, uma causa, um motivo e até uma vontade. 

Mas de facto apenas oiço e imagino.

Imagino-me ser a convidada e porque não a jornalista, quem sabe a locutora e também a escritora, mas imagino sempre vozes com garra, vozes com brilho e vozes com vontade de se fazerem ouvir.

E no entanto ao imaginar que rosto terá aquela voz, que face terá aquele corpo, apenas constato que novo hábito se instala, por querer ouvir e imaginar, vozes que dão vida à voz e até gestos que dão existência à alma. Pois, apenas a voz que oiço me faz imaginar que gestos estarão a fazer enquanto falam e trabalham?

Oiço e escuto, divago e penso, oiço e ausculto e novamente vagueio e devaneio.

São lindas vozes de corpo ausente, são fenómenos com voz e com som presente, são vozes com cheiro e tradição, são toques de vozes que nos fazem fantasiar. 

E eu aqui a escrever e a esforçar-me para me lembrar, o que tanto queria rabiscar, o que tanto me inspirou numa tarde de rádio com som de vozes e sem som de música. 

Afinal, escrevo apenas para recordar, para me acalmar e nada consigo nesta vida fazer, a não ser escrever com som de teclas e devaneios sem voz.

Pois, afinal tudo esqueci e nada escrevi. 



Que voz tenho eu para fazer nascer algo que arrepie e denuncie?
Que voz tenho eu para agarrar com vontade e nascer sem crueldade?
Que voz tenho eu na alma e no corpo, na vida e na mente?

Diz-me apenas se me faço ouvir?
Diz-me apenas se me faço sentir? 

Mas diz-me…
Diz-me que, mesmo calada e sossegada me ouves.

Assim, serei a voz de alguém, saberei ter voz e também ser voz, que se faz ouvir com palavras escritas e nunca faladas, mas que se faz entender e até perceber, que se faz sentir e até amar, porque afinal, também escrevo e o corpo não me vêem, de igual modo que escuto uma voz com corpo, mas não o vislumbro por ser voz de rádio.

Se assim é, serei sempre a tua voz, não é bonita nem firme, mas é e será sempre uma voz, a voz da luta e da conquista, a voz da dor e da ignorância, mas será sempre uma voz.

Uma voz com corpo e presença sem rádio.


Ana Mascarenhas in Em Carne Viva





 

Vídeo do Programa "Conversando" da TVL

O Vídeo da Entrevista do Programa "Conversando" da TVL já se encontra disponível. Basta clicar no lado direito do blogue, na opção "Entrevista Digital a Ana Mascarenhas" e, selecionar a opção "Entrevista no Programa "Conversando". Ou, poderá clicar no link em baixo da imagem. Obrigada!


Isabel Fontes recebeu Ana Mascarenhas no 1º programa”Conversando”. Para falar de “Louca Sensatez”, “Em Carne Viva”, “Vazios da Escrita” os livros da autora.

Quem é Ana Mascarenhas?
“Curiosamente quando falo sobre mim, não consigo escrever na primeira pessoa é como se me alienasse de mim e estivesse a escrever sobre alguém que conheço bem, que me é próximo, mas não sou eu.”

Gravação para o Programa "Conversando" da TVL

Algumas imagens, ainda em fase de ensaio, para a gravação do programa
"Conversando" da TVL