Entrevista sobre o Livro "Louca Sensatez"

 


1.      A vida, a escrita, biografia e literatura (experiencia na escrita, inícios, leituras, autores)

Vida… a vida é para ser vivida com vontade de viver e não apenas existir.

Educo-me vezes sem conta quando existem dias menos bons na minha vida, contudo nem sempre sigo esta máxima.

De facto é mais fácil segui-la quando estou perante o calor humano e/ou da natureza, como o sol, a praia, o campo, o ar, a terra, a água, o vento, e até o próprio fogo.

Identifico-me com todos estes elementos, contudo, existe um que me aproxima da vontade de viver, é o fogo, o calor e/ou ardor, que pelos seus condimentos, requerem estados de paixão constantes, e é a paixão, seja ela pela escrita pelo que for, que me move para me sentir viva.

A escrita para além de ter sido uma descoberta tardia, foi igualmente inconsciente.

Sempre gostei de escrever, contudo nunca me apercebi o quanto ela representou e representa para mim nos dias de hoje, digamos que a mesma se tornou na minha companhia e na minha solidão, no meu refúgio e no meu amparo, com ela revelo-me e acuso-me, mas nunca deixando de ser eu.

A minha biografia não é nem mais nem menos que qualquer biografia humana, é apenas diferente e semelhante, diferente por ser única, semelhante por ser humana.

Estudei e continuo a estudar, aliás, acho que será um acompanhamento para o resto da minha vida, trabalho como todos os comuns dos mortais e divago com a escrita. Digamos que herdei do meu pai este bichinho de querer saber sempre mais… apenas isso…

A leitura aliada à escrita seguiu o mesmo trajecto, sendo que devo a uma pessoa esse trajecto, à Isabel Ramos. A Isabel é uma pessoa ponderada, com ela aprendi a crescer com maior dignidade.

Ensinou-me a crescer e a ver a vida de forma mais racional sem nunca esquecer a emotividade, contudo sentida de forma igualmente racional, ou seja, dentro dos limites da nossa insanidade mental.

Aprendi a gostar de ler com vontade de devorar cada história, cada personagem, cada clima instalado, cada tudo e cada nada. Por isso, Obrigada Isabel, por me teres ensinado a iniciar-me neste campo da literatura.

Autores de eleição existe um, digo-me Pessoana 100% porque tenho várias almas, aliás como Fernando Pessoa com os seus heterónimos com vontade de ver nascer almas várias, sem nunca delas querer se alienar por completo.

Assim, tenho vários estados de alma que se alimentam da escrita, consoante o estado de espírito que as mesmas evocam.


2.      Fantasia, realidade, “ser em”

Fantasiar é sonhar acordada, é viver emoções fortes sem romper com os laços tradicionais desta vida que nos ensinou a viver no certinho e no equilíbrio do bom senso, por isso está intrinsecamente ligada à realidade.

Sem fantasiar não saberia viver na realidade, porque é na realidade que aprendo a fantasiar.

Fantasiar e/ou “ser em…” e não, “ser-se…”, é a diferença disso mesmo, ou seja, eu posso ser em Ti algo, sem me alienar e sem me sobrepor a esse “Ti”, que pode ser inclusive uma forma lírica de fantasiar.

3.      Espontaneidade e controlo

Espontaneidade… de facto já fui mais espontânea, já fui naturalmente espontânea, actualmente sou controladamente espontânea, mas de forma natural.

A vida ensinou-me a ser a própria essência de forma natural, e a manter esta minha essência com a mesma pujança com que a juventude se rege, aliás, de outra maneira não poderia ser, pois a essência nasce connosco, contudo, ensinou-me igualmente a controlar emoções, partilhar sentimentos sem magoar, o que por vezes é um desafio à minha própria alma, e acima de tudo ensinou-me a ser naturalmente controlada, mas sem nunca perder a minha própria espontaneidade, sem nunca me perder e me alienar do meu verdadeiro “Eu” como pessoa que sou.


4.      Pensamento, sonho, desejo, facto

Descartes disse, “Penso, logo existo”, é…, é isso mesmo, o pensamento está em mim, dentro de mim e dentro do mais comum dos mortais, está ligado à lógica irracional. Lógica, porque seria ilógico não pensarmos, contudo igualmente irracional, porque nem sempre a lógica faz parte dum padrão de razoabilidade aceitável, logo, trata-se de uma lógica irracional.

Quanto ao sonho, é ele que comanda a vida. Já António Gedeão na letra da música “Pedra Filosofal” o disse, cabe a mim decidir se devo ou não seguir esta máxima, decidi segui-la, caso contrário o que estaria eu hoje aqui a fazer?

Foi de um sonho, de um desejo infinito que se tornou um facto, esta “Louca Sensatez”.


5.      O peso da palavra

A palavra tem peso quando sentida no silêncio do nada, quando sentida naturalmente.

Sentir o peso que ela em mim provoca, independentemente do choque que venha a ter, independentemente da forma como venha a sentir, é a palavra, é o peso dela, que me faz verdadeiramente saber sentir, saber rir e chorar, saber mover montanhas e perdoar, mas sempre, sempre com vontade de querer experimentar novamente sensações, que provoquem um peso que se liberta através da palavra.



6.      Solidão, plenitude, interioridade

A solidão é a minha companhia de eleição, com ela aprendi a gerir emoções fortes, aprendi a criar a plenitude que preciso ter, aprendi a interiorizar, aprendi a conhecer-me melhor, por isso não posso nem quero abdicar desta minha nova companhia.

E nova porquê? Porque foi há poucos anos que tomei consciência da preciosidade do que é saber viver no meio da multidão, e sentir o peso da solidão, aliás de igual modo como sinto o peso da palavra.

A solidão é o meu fio condutor, com ela invoco musas inspiradoras para os meus momentos de escrita, foi na solidão que encontrei a paz e a plenitude interior, e foi na solidão que aprendi também a saber encontrar-me.

7.      Os limites do discurso

O discurso não tem limites, posso discursar pensando, e em última instância o meu limite é a minha imaginação, porque o pensamento não tem limites, logo, se interiorizar o discurso, acabo por concluir que o discurso é infinitamente ilimitado.

8.      Liberdade de ser na palavra

A liberdade foi uma conquista, ainda o é, nada se tem sem esforço ou empenho, contudo e no meu entendimento, liberdade é e será sempre um sinónimo de responsabilidade, logo, serei sempre responsável por fazer da palavra a honra que ela merece ser e/ou ter para ser proferida com alma sentida.


9.      Silencio, transe, loucura, lucidez, harmonia,  sensatez, expressão verbal, silencio…

O silêncio é o aconchego do meu ser, é saber ouvir o silêncio ensurdecedor, sem nunca me conseguir magoar.

Pode ser em estado de transe ou loucura, lucidez ou harmonia, mas é preciso saber ouvir o silêncio, independentemente do estado de alma que me visita.

Faço questão de saber viver com o silêncio, aliás, aliado ao silêncio está a solidão, sou silêncio e também solidão quando deles necessito, por isso, à procura deles vou e não hesito.


10.  Prazer, o corpo na palavra ou a palavra no corpo

O prazer de escrever e ler é igualmente escrever com o corpo, é dançar com vida, mover com ritmos assassinos para matar a sede de dançar, digamos que é uma patologia psicopata, pois a vontade depois de matar, renasce com mais vontade ainda.

O prazer para mim está inegavelmente associado à dança, ao corpo, à palavra, à escrita, à leitura, à sensação de sentir até nada proferir, à sensação de tocar mesmo sem corpo habitar, mas saber sentir para lá do expectável, saber sentir o que é o prazer de viver por cima de amontoados de palavras que provocam o caos e que quero aprender a saber viver no meio dele, no meio do caos.

Ainda estou a educar-me a viver no meio do caos, no meio de palavras sem corpo e de corpo sem palavras, estou a ensinar-me a sentir prazer pelo simples facto de querer viver mais e melhor.

Quero apenas vida em mim…

Vida em Mim que há em Ti, Vida em Ti que há em Mim.