"Em Carne Viva" na Wook

O Livro "Em Carne Viva" já se encontra disponível no site da Porto Editora/Wook


Sinopse
São várias as facetas da Mulher numa sociedade que evoluí e retrocede. Lapidar essas esquinas torna-se desmedido, no entanto, tentei vaguear nos seus vários povoados que, sei ser o melhor local onde se manifestam, pernoitando e habitando, sem muitas vezes permitirem a invasão, concentrando-se apenas e só no seu mundo.

Em Carne Viva de Ana Mascarenhas


Palavras de Diego Martinez Lora





Porque na vitalidade da linguagem da Ana Mascarenhas circula a sua alma como sangue que flui com muita força. A intensidade está em cada frase, em cada palavra, em cada letra. A sua sensibilidade, os sonhos, as ilusões, os desejos refletem-se no seu ser textual. Mostra-nos a sua visão do mundo, a raiva, o amor, a esperança, a paixão, todas as convicções, hesitações e contradições numa forma verbal que parece estar… Em Carne Viva.

Diego Martinez Lora

Palavras Prévias do Livro "Em Carne Viva"





Na sequência do meu primeiro livro intitulado “Louca Sensatez” em que revela a sensualidade e o erotismo feminino em prosa e poesia narrativa, invocando estados vários de paixão, sejam eles líricos, platónicos, românticos ou até realistas, escrevi o livro agora aberto que, traduz igualmente o elemento feminino mas, num estado diferente.

São várias as facetas da Mulher numa sociedade que evoluí e retrocede. Lapidar essas esquinas torna-se desmedido, no entanto, tentei vaguear nos seus vários povoados que, sei ser o melhor local onde se manifestam, pernoitando e habitando, sem muitas vezes permitirem a invasão, concentrando-se apenas e só no seu mundo.

Foi desta forma devaneada, muitas vezes também presenciada que, melhor consegui descrevê-las vivenciando-me na pele de várias, por serem igualmente várias as vestes que trajaram.

Mulher escrava e sedutora.
Mulher moderna e sensual.
Mulher aparentemente só… Mulher sozinha mas acompanhada, Mulher escondida mas vivida, Mulher e sempre Mulher…

Quer seja amante, mãe ou filha, quer seja honrada, desonrada, ou violada, a Mulher traduz em si vários significados, várias facetas, vários estados em que se esconde e pronúncia, se veste despida e se revolta humilhada.

Por isso, ser Mulher empreendedora, trabalhadora e igualmente, Mulher sofrida mas também Mulher com garra, com chama, com presença e profissionalismo traduzem neste livro intitulado “Em Carne Viva” um desafio para todas as Mulheres neste povoado imenso de características humanas mas igualmente desumanas.

Está nas mãos da Mulher, estão nas Nossas mãos mudarmos e não apenas presenciarmos.

Não mais evocaremos desculpas sem culpas, espalhando comodismos sem feitos e criando tempestades sem chuvas.
Não mais crucificaremo-Nos por feitos que não foram Nossos, por lugares que não são igualmente Nossos e por tempos que já foram tempos.

Saibamos fazer o que de melhor habita em Nós…
Viver, Amar intensamente e deixar pernoitar em Nós, o ser que escondemos e nem sequer nos permitimos a deixar-se soltar…

M de Mulher, M de Mundo, M de Mãe… somos Nós… vamos viver e não apenas sofrer…

                                                                                  Ana Mascarenhas


Entrevista ao Jornal de Odivelas




Entrevista sobre o Livro "Em Carne Viva"


1. Um ano após a publicação do livro Louca Sensatez, aparece o livro Em Carne Viva. O que de há de diferente neste novo livro?

Digamos que o livro Em Carne Viva é a continuidade do livro Louca Sensatez mas, no seu estado mais cru, mais nobre.

Enquanto que o livro Louca Sensatez começa por ser a invocação à sensualidade feminina, existe, porém, o “eu” lírico que é visto e, igualmente sentido na poesia narrativa. Este “eu” lírico começa a querer fazer-se ouvir de forma mais vincada, quase que apelando paulatinamente ao seu eco.

Daqui nasce o livro Em Carne Viva e toda uma panóplia de sentimentos em forma de catarse interna, que se associam à imagem humana, à sociedade e ao valor dos Valores. A palavra tem o papel principal e a honra é a sua personagem favorita, digamos que o livro Em Carne Viva é a purificação da Alma.


2. Falas por todas as mulheres ou simplesmente por ti?

Como escrevi nas palavras prévias do livro Em Carne Viva, falo por todas as mulheres. Falo por mim que sou mulher e, igualmente por todas as mulheres com M grande. Para quem me lê é facilmente perceptível verificar que escrevo sempre na primeira pessoa do singular, o que, não valida ou invalida que o que escrevo seja sobre mim. Temos o exemplo do texto “Timor”, neste texto visto a pele do país, da terra, da gente, do povo timorense e, no entanto, não sou nem nunca estive em Timor, mas escrevo na primeira pessoa. Penso que esta forma de escrever permite que o leitor se reveja nos meus textos, como se ele estivesse a ler em voz alta e a sentir o que escrevo, é um pouco a partilha única mas universal de sentimentos comuns.


3. No livro Em Carne Viva as ideias prevalecem às imagens?

Nada prevalece sobre nada, nem o texto nem as imagens, ambas se complementam. São associações de estados de Alma que, complementam alguns textos para que o leitor associe o que lê, à pessoa que escreve, contudo, como está escrito na primeira pessoa, permite igualmente que o leitor se sinta dentro do texto, como se dele fizesse também ele parte.


4. Pensas que nestes tempos a honra de uma pessoa vale muito?

Não é só nestes tempos é em todos os tempos. A honra de uma pessoa é o maior valor que ela tem. É a honra que a acompanha para a segunda viagem, se não nascemos com ela, poderemos com ela morrer, logo, não são os bens materiais mas, a honra que nos irá acompanhar e, poderá ser ela, a honra, igualmente o nosso legado, só assim, os nossos descendentes crescerão e viverão num mundo melhor. Parece utopia, parece repetitivo, mas é uma constante luta para quem nela acredita.


5. A escrita existe para curar as mágoas como uma consolação, como um refúgio? Ou para despertar o espírito crítico nos leitores? A revolta. Para não permitir que o número de mutantes aumente?

A escrita existe por razões várias. Não só como elemento catártico, não só como refúgio e amparo, não só para despertar o sentido crítico de cada leitor, não só para abanar mentalidades, não só para não permitir que o número de mutantes exista, mas, de facto, e, acima de tudo, a escrita existe como forma de expressão, uma forma de Arte expressiva, uma forma de comunicar calado, porque o silêncio das palavras também falam, comunicam caladas, escritas, silenciadas, mas comunicam, lendo-as.

A escrita é um refúgio que nos permite interiorizar e, alimentar o elemento catártico que há em nós, para não nos permitirmos ser devorados pelos mutantes a que apelidamos de humanos.

Por isso, escrevo calada mas sentida.



6. O título do teu segundo livro podia ter sido também “Em carne própria”?

Não. O título “Em Carne Própria” dá a sensação de se tratar exclusivamente da minha pessoa e, faz igualmente lembrar o «slogan» “impróprio para consumo”, o que, não deixa de ser verdade esta reflexão em muitos dos textos que o livro tem, contudo, seria colocar os mesmos num único patamar, ou seja, na minha pessoa e, como escrevi anteriormente, trata-se de um livro único por ser “eu” mas universal por ser da “Mulher”.


7. Quando damos por terminado um texto que exprima a nossa indignação?

Nunca dou um texto definitivamente por terminado. Ele termina naquela momento porque me sugou todas as palavras e sentimentos que tinha naquele momento para dar, mas, um texto é sempre uma continuidade do nosso eu, enquanto pessoa, enquanto cidadãos, enquanto ser humano. É uma espécie de vida própria que ganha consistência à medida que vive, logo, um texto nunca é uma obra acabada, mas sim e sempre inacabada…


8. A tua escrita ganha um corpo próprio, estás muito presente nela. Estás a viver cada vez mais intensamente a literatura?

A minha escrita revela o sentimento comum. Nem todos o desnudam de forma tão clara ou inequívoca, mas revelam o sentimento que é a consciência humana. É essa consciência que é preciso despertar, por isso, sim, é verdade, vivo cada vez mais intensamente a literatura, é através da arte de escrever que me refugio ao ver e/ou sentir um sentimento que muitas vezes me visita, o da impotência. Por sentir a corrupção, a deslealdade, a inveja, a mentira, a podridão, por sentir todos os sentimentos que todos nós humanos deveríamos sentir ou passar, porque só assim é possível o ser humano se tornar num ser mais humilde, mais capaz…, infelizmente, crescemos sempre da pior maneira e, esta não é excepção.


9. A infelicidade própria ou alheia é o melhor parceiro dum poeta?

Todo e qualquer sentimento, seja próprio e/ou alheio, seja feliz ou menos feliz, é e será sempre o parceiro de um poeta, no entanto, o silêncio da solidão é o seu parceiro de eleição, digamos que o melhor…


10. Existe uma literatura feminina?

Não acho que as literaturas tenham que ser femininas ou masculinas, até porque a literatura não tem sexo, mas existe uma clara tendência para determinadas leituras serem absorvidas por seres femininos e outras por seres masculinos, no entanto, e no meu ponto de vista, toda e qualquer literatura é e deve ser absorvida por seres de ambos os sexos, como disse, a literatura não tem sexo.


11. A traves dos poemas do teu segundo livro podemos reconstruir um período da tua vida interior?

Os poemas do livro “Em Carne Viva” são de facto todo um processo de interiorização que serviu de catadupa para a exteriorização. No entanto, não posso afirmar tratar-se de um período único e exclusivo da minha vida, é evidente que o meu cunho pessoal está sempre presente, porque sinto como qualquer ser humano, mas nem todos têm que ser necessariamente sobre um processo de interiorização da minha pessoa.


12. Quando reparas que a voz lírica do teu livro é e não é Ana Mascarenhas?

A voz do meu livro é sempre a voz da Ana Mascarenhas, porque me visto e sinto na pele o que escrevo, mas, uma vez mais, e, pese embora o meu cunho esteja sempre presente, a minha voz apenas dá corpo a almas várias que podem ser sentidas por quaisquer pessoas.


13. Pensas que as pessoas gostam mais de falar de si próprias do que ouvir a voz dos outros?

Depende. Há pessoas que gostam de sentir o seu eco, o seu ego alimentado e, outras há que gostam de ser o alimento desse eco ou desse ego, logo, depende…


14. O que te limita a escrita? Escreves tudo o que desejas? Tens alguma autocensura?

A escrita não tem limites, mas nem sempre escrevo o que desejo. Outras há que escrevo o que não desejo, mas escrevo sempre… de uma forma ou de outra, posso não escrever naquele momento, naquele exacto momento, mas escrevo… na memória, para depois mais tarde escrever no papel.

Sim. Por vezes autocensuro-me: Estou melhor, ou não…não sei, mas por vezes autocensuro-me apenas com receio do que possam pensar… escrevo sempre na primeira pessoa e, muitas são as vezes que se confunde o papel do autor com o papel da personagem…


15. A paixão por escrever é como uma religião particular?

Não. Não necessariamente. Penso que a religião como a vemos hoje, exige uma particularidade que nada tem a ver com a escrita. Ou seja, existe a religião «fanática» existe a religião «hipócrita», existe apenas religião, mas, todas elas batem no mesmo alvo, ou seja, a disciplina no sentido de que a falha será punida… no meu entendimento e, tratando-se de uma paixão, não será uma obrigatoriedade mas acima de tudo uma satisfação… por isso, prefiro fazer uma analogia entre a escrita e a espiritualidade, por esta última ser igualmente sentida pela minha pessoa como um processo de satisfação e, não como um processo de obrigação…


16. Entre a realidade (incluindo a fantasia) e a Literatura, quais as fontes de inspiração?

São várias as fontes de inspiração, variam consoante e, principalmente, o estado de espírito, o tempo (clima), as observações exteriores do mundo que me rodeia, enfim, são várias e por vezes nenhuma. Quando o tempo passa e nada escrevo, nada me inspira para escrever, aprendi a esperar, aprendi a nada forçar, aprendi que a seu tempo a vontade chega…é assim que funciona…


17. O amor e o desamor em Em Carne Viva

Talvez esteja mais presente o desamor que o amor, mas, não o desamor como o conhecemos, mas antes, um desamor de desilusão, impotência, por tudo querer fazer, mudar e, nada conseguir, é um sentimento de desamor mas em relação á sociedade…


18. O desafio de viver sempre apaixonada

É sem dúvida um grande desafio, o maior ou um dos maiores que a vida nos oferece. Viver num estado constante de paixão, quer seja por alguém ou, por livros, arte, escrita, estudo, trabalho é, sem sombra de dúvida o maior desafio, caso contrário, estaria rapidamente em declínio comigo mesma, permitindo que a depressão se instalasse em mim e isso, não o permito…prefiro a luta mesmo que desiludida, à satisfação da inércia por nada fazer, por isso, luto por estar sempre, mas sempre apaixonada…pela vida…


19. O que poderá ser uma má interpretação da tua posição na vida e na literatura?

Já o foi. Quando o livro “Louca Sensatez” foi publicado houve muitas pessoas do “meu” mundo profissional que me julgaram caladas, pessoas que não sabem apreciar a arte de escrever, de sentir, de viver… houve até quem me dissesse que os meus estudos não eram bem vindos na minha área profissional, houve quem me dissesse que era um livro pornográfico, houve quem me julgasse calado… mas não me importei, sei que tudo o que escrevo é sentido de todas as formas e mais alguma por todas as pessoas, umas partilham, outras não, outras ainda manifestam desagrado por quem partilha…

Contudo, o ser humano tem um potencial enorme dentro de si que, muitas são as pessoas que não sabem ou não querem saber. O facto de trabalharmos numa determinada área de negócio, não implica necessariamente que não possamos fazer outras coisas, mas existe uma resistência enorme à inovação, à criação, à vontade própria de fazer outras coisas igualmente bem feitas… somos nós, os humanos no seu melhor…enfim…


20. Entre o prazer sexual, sensual, estético e epistemológico

O prazer é prazer… o prazer não pode ser comparado sob pena de o quantificarmos. Sendo o prazer um sentimento, quer seja de cariz sexual, estético, sensual ou até um prazer na ordem do saber, do conhecimento e da lógica é sempre prazer…um sentimento sentido de formas diferentes e por vezes inexplicáveis…


21. Entre a palavra e o facto, entre dizer e fazer

A palavra deveria ser honrada, quando a proferimos devemos ter o máximo cuidado com o que proferimos, sob pena de ao actuarmos contradizermo-nos… é um facto que a palavra está cada vez mais em desuso, as pessoas por tudo e por nada pecam pelo excesso de palavras, diz-se muito e actua-se pouco e depois, ainda há quem actue mas não no momento certo e, muitas vezes, não da melhor maneira… a honra da palavra nem sempre é sentida, é preciso e primeiramente saber honrar-se a si próprio para depois saber dar-se a honrar…


22. Consideras que o livro “ Em Carne Viva” é um livro aberto, que ainda pode aumentar cada dia?

Sem dúvida, absolutamente. É um livro e como livro que é está sempre aberto… perdura no tempo, porque a sociedade está em constante mutação, logo, o livro, a escrita, o sentir estão igualmente num constante dinamismo.


23. Entre o que se está a pensar e o que se está a sentir, o desafio da linguagem …

É um grande desafio. Nem sempre se escreve o que se sente ou o que se pensa… não porque a escrita não nasça do sentimento em si, nada disso, mas por vezes não há palavras para conseguir explicar o que se sente…sente-se e ponto… existem muitas palavras que ficam aquém do que gostaríamos de explanar… talvez resida aqui a evolução linguística…não sei… penso que poderá ser uma matéria para os filólogos…



Sessão de Autógrafos "Em Carne Viva"

Fotos da Sessão de Autógrafos do Livro "Em Carne Viva"





Fotos do Lançamento do Livro "Em Carne Viva"