Tributo a Ana Mascarenhas


Video feito por Jorge Bernardo
Música de Mário Laginha e excertos de um texto de Ana Mascarenhas

"Louca Sensatez" na Wook

O Livro "Louca Sensatez" já se encontra disponível no site da Porto Editora/Wook


Sinopse
A Ti Te dedico estas Memórias, a ti vida, a ti alma, vida em ti que há em mim, vida em mim que há em ti, em que a voz se fez alma e a alma se fez ouvir.

Louca Sensatez de Ana Mascarenhas

"Louca Sensatez" na Bulhosa

O Livro "Louca Sensatez" na Livraria Bulhosa do Centro Comercial Oeiras Park, ao lado de grandes Poetas como Florbela Espanca, Fernando Pessoa, entre outros...



As Primeiras Palavras...

As Primeiras Palavras do Livro "Louca Sensatez"
A Primeira Página que se fez Ler...
A Primeira Frase que se fez Sentir...










A Ti Te dedico estas Memórias,

A Ti Vida,
A Ti Alma,

Vida em Ti que há em Mim,
Vida em Mim que há em Ti.

Em que a Voz se fez Alma e a Alma se fez Ouvir.

Palavras com Vida Própria

Poema do Livro "Louca Sensatez" que faz igualmente parte da Contracapa do respectivo Livro.




Palavras com Vida Própria

Cada palavra, cada frase, cada conotação.
São flechas que me espetam e esventram.
São facas afiadas que me ferem aguçadas.

Leio e releio, torno a ler e a reler.

Revejo-me em cada letra, em cada palavra, mas não imaginava o
quanto as mesmas eram proferidas com almas várias, que
precisavam de ser cuidadas como quem cuida por amar, que
necessitavam de ser alimentadas como alimentos já saciados.

Julguei ser única, julguei ser única mulher de tão belas palavras
proferidas com alma, apenas por me amar.

Afinal são apenas palavras como tantas outras.
Afinal são frases que julguei feitas para mim e por mim.

Como pude ser a ingenuidade, por me encantar por palavras com alma?
Palavras sentidas por conotá-las de vida.

Uma vida que vai para lá do entendimento.
Uma vida que lê e relê palavras com alma, por amar a escrita
como quem ama a poesia.

Serei Apenas Escrita



Estou onde estou,
e apenas quero escrever

Estou onde não estou,
e a escrita consegue vencer

Invade-me sem contas exigir
Isola-me sem licença pedir

Quero libertar-me, mas não consigo
Quero soltar-me, mas não me permito

A escrita encosta-me à parede
A escrita consome-me a mente

Com ela morrerei
Com ela ficarei

Com ela simplesmente serei
Apenas a letra de alguém

Fotos do Lançamento do Livro "Louca Sensatez"







Lágrimas de Chuva



Atirei a mala para o banco do pendura, sentei-me no carro, baixei a pala e vi-me bem de perto ao espelho. A porta do carro ainda estava aberta, carreguei no botão de arranque, fechei a porta e ali fiquei.

Tinha o CD da Gianna a tocar e aumentei o volume da música. Peguei na mala e tirei os meus óculos de sol. Baixei o travão de mão, coloquei a marcha atrás e ouvi os sinais sonoros da indicação de marcha atrás, comecei a minha viagem.

O som da música absorveu-me por completo, oiço a chuva lá fora.

Já estava na auto-estrada e as nuvens carregaram-se de negro, a chuva caiu forte e feio como se de uma tempestade se tratasse.

Sinto uma gota escorrer-me pela cara, sinto-a chegar-me aos lábios, estava salgada.

Outra gota, e mais outra, paro o carro em plena auto-estrada, saio, deixo a porta aberta e o som da música abafa o som da chuva.

Estava já ensopada, molhada por um todo, a minha roupa colada ao corpo denunciava-me frágil e delgada.

Senti arrepios, senti mais uma gota e mais outra, eram pingos da chuva combinados com lágrimas.

Abri os braços e comecei a rodopiar, dei voltas completas, dei meias voltas, chorava compulsivamente e nada nem ninguém se apercebeu se eram lágrimas ou simplesmente chuva.

Havia carros a abrandarem, outros pararam igualmente em plena auto-estrada, uns chocavam com outros devido à pouca visibilidade, sabia estar a provocar uma tragédia, sabia estar a ser alvo de atenção, sabia ser a plateia, o palco e a acção. Uns saíam do carro e aplaudiam, outros saíam e gritavam louca, outros simplesmente não saíam, o trânsito ficou infernal, parou por completo, a fila tinha já alguns metros para não dizer quilómetros.

Eu ali continuava a dançar, a rodopiar ao som da voz rouca de Gianna, de corpo denunciado pela roupa molhada devido à chuva que teimava em não abrandar e, acompanhava a música como se de uma banda fizesse parte. Estava louca, louca de nostalgia, louca de frio, de medos e receios. Era a minha tristeza, era o meu refúgio, era a minha solidão, um vazio sem igual que naquela condição estava e apreciei-a em cada segundo, em cada minuto desse insólito estado nostálgico em plena auto-estrada.

A música continuava e eu abrandei depois de compulsivamente ter chorado. A chuva acompanhou-me sempre, agora também num aparato menos agitado. Acalmei-me e parei de rodopiar, baixei os braços e pensei. Este pequeno momento de loucura foi o melhor que senti em toda a minha vida, estou como nova, soube-me bem e fiquei outra.

Entrei para o carro, mas sem antes despir-me apesar do frio que me percorria o corpo. Estava completamente encharcada de dor, molhada de lágrimas e ensopada de chuva.

Comecei a conduzir, conduzia agora num estado bem mais calmo, estava nua no corpo e despida na alma. Os carros que podiam, arrancaram, aqueles que se atropelaram ali ficaram para resolverem as suas ocorrências de percurso e eu…eu já estava curada, resolvi o meu incidente de viagem com lágrimas de chuva provocando acidentes de loucura numa qualquer auto-estrada de Portugal.

Entrevista sobre o Livro "Louca Sensatez"

 


1.      A vida, a escrita, biografia e literatura (experiencia na escrita, inícios, leituras, autores)

Vida… a vida é para ser vivida com vontade de viver e não apenas existir.

Educo-me vezes sem conta quando existem dias menos bons na minha vida, contudo nem sempre sigo esta máxima.

De facto é mais fácil segui-la quando estou perante o calor humano e/ou da natureza, como o sol, a praia, o campo, o ar, a terra, a água, o vento, e até o próprio fogo.

Identifico-me com todos estes elementos, contudo, existe um que me aproxima da vontade de viver, é o fogo, o calor e/ou ardor, que pelos seus condimentos, requerem estados de paixão constantes, e é a paixão, seja ela pela escrita pelo que for, que me move para me sentir viva.

A escrita para além de ter sido uma descoberta tardia, foi igualmente inconsciente.

Sempre gostei de escrever, contudo nunca me apercebi o quanto ela representou e representa para mim nos dias de hoje, digamos que a mesma se tornou na minha companhia e na minha solidão, no meu refúgio e no meu amparo, com ela revelo-me e acuso-me, mas nunca deixando de ser eu.

A minha biografia não é nem mais nem menos que qualquer biografia humana, é apenas diferente e semelhante, diferente por ser única, semelhante por ser humana.

Estudei e continuo a estudar, aliás, acho que será um acompanhamento para o resto da minha vida, trabalho como todos os comuns dos mortais e divago com a escrita. Digamos que herdei do meu pai este bichinho de querer saber sempre mais… apenas isso…

A leitura aliada à escrita seguiu o mesmo trajecto, sendo que devo a uma pessoa esse trajecto, à Isabel Ramos. A Isabel é uma pessoa ponderada, com ela aprendi a crescer com maior dignidade.

Ensinou-me a crescer e a ver a vida de forma mais racional sem nunca esquecer a emotividade, contudo sentida de forma igualmente racional, ou seja, dentro dos limites da nossa insanidade mental.

Aprendi a gostar de ler com vontade de devorar cada história, cada personagem, cada clima instalado, cada tudo e cada nada. Por isso, Obrigada Isabel, por me teres ensinado a iniciar-me neste campo da literatura.

Autores de eleição existe um, digo-me Pessoana 100% porque tenho várias almas, aliás como Fernando Pessoa com os seus heterónimos com vontade de ver nascer almas várias, sem nunca delas querer se alienar por completo.

Assim, tenho vários estados de alma que se alimentam da escrita, consoante o estado de espírito que as mesmas evocam.


2.      Fantasia, realidade, “ser em”

Fantasiar é sonhar acordada, é viver emoções fortes sem romper com os laços tradicionais desta vida que nos ensinou a viver no certinho e no equilíbrio do bom senso, por isso está intrinsecamente ligada à realidade.

Sem fantasiar não saberia viver na realidade, porque é na realidade que aprendo a fantasiar.

Fantasiar e/ou “ser em…” e não, “ser-se…”, é a diferença disso mesmo, ou seja, eu posso ser em Ti algo, sem me alienar e sem me sobrepor a esse “Ti”, que pode ser inclusive uma forma lírica de fantasiar.

3.      Espontaneidade e controlo

Espontaneidade… de facto já fui mais espontânea, já fui naturalmente espontânea, actualmente sou controladamente espontânea, mas de forma natural.

A vida ensinou-me a ser a própria essência de forma natural, e a manter esta minha essência com a mesma pujança com que a juventude se rege, aliás, de outra maneira não poderia ser, pois a essência nasce connosco, contudo, ensinou-me igualmente a controlar emoções, partilhar sentimentos sem magoar, o que por vezes é um desafio à minha própria alma, e acima de tudo ensinou-me a ser naturalmente controlada, mas sem nunca perder a minha própria espontaneidade, sem nunca me perder e me alienar do meu verdadeiro “Eu” como pessoa que sou.


4.      Pensamento, sonho, desejo, facto

Descartes disse, “Penso, logo existo”, é…, é isso mesmo, o pensamento está em mim, dentro de mim e dentro do mais comum dos mortais, está ligado à lógica irracional. Lógica, porque seria ilógico não pensarmos, contudo igualmente irracional, porque nem sempre a lógica faz parte dum padrão de razoabilidade aceitável, logo, trata-se de uma lógica irracional.

Quanto ao sonho, é ele que comanda a vida. Já António Gedeão na letra da música “Pedra Filosofal” o disse, cabe a mim decidir se devo ou não seguir esta máxima, decidi segui-la, caso contrário o que estaria eu hoje aqui a fazer?

Foi de um sonho, de um desejo infinito que se tornou um facto, esta “Louca Sensatez”.


5.      O peso da palavra

A palavra tem peso quando sentida no silêncio do nada, quando sentida naturalmente.

Sentir o peso que ela em mim provoca, independentemente do choque que venha a ter, independentemente da forma como venha a sentir, é a palavra, é o peso dela, que me faz verdadeiramente saber sentir, saber rir e chorar, saber mover montanhas e perdoar, mas sempre, sempre com vontade de querer experimentar novamente sensações, que provoquem um peso que se liberta através da palavra.



6.      Solidão, plenitude, interioridade

A solidão é a minha companhia de eleição, com ela aprendi a gerir emoções fortes, aprendi a criar a plenitude que preciso ter, aprendi a interiorizar, aprendi a conhecer-me melhor, por isso não posso nem quero abdicar desta minha nova companhia.

E nova porquê? Porque foi há poucos anos que tomei consciência da preciosidade do que é saber viver no meio da multidão, e sentir o peso da solidão, aliás de igual modo como sinto o peso da palavra.

A solidão é o meu fio condutor, com ela invoco musas inspiradoras para os meus momentos de escrita, foi na solidão que encontrei a paz e a plenitude interior, e foi na solidão que aprendi também a saber encontrar-me.

7.      Os limites do discurso

O discurso não tem limites, posso discursar pensando, e em última instância o meu limite é a minha imaginação, porque o pensamento não tem limites, logo, se interiorizar o discurso, acabo por concluir que o discurso é infinitamente ilimitado.

8.      Liberdade de ser na palavra

A liberdade foi uma conquista, ainda o é, nada se tem sem esforço ou empenho, contudo e no meu entendimento, liberdade é e será sempre um sinónimo de responsabilidade, logo, serei sempre responsável por fazer da palavra a honra que ela merece ser e/ou ter para ser proferida com alma sentida.


9.      Silencio, transe, loucura, lucidez, harmonia,  sensatez, expressão verbal, silencio…

O silêncio é o aconchego do meu ser, é saber ouvir o silêncio ensurdecedor, sem nunca me conseguir magoar.

Pode ser em estado de transe ou loucura, lucidez ou harmonia, mas é preciso saber ouvir o silêncio, independentemente do estado de alma que me visita.

Faço questão de saber viver com o silêncio, aliás, aliado ao silêncio está a solidão, sou silêncio e também solidão quando deles necessito, por isso, à procura deles vou e não hesito.


10.  Prazer, o corpo na palavra ou a palavra no corpo

O prazer de escrever e ler é igualmente escrever com o corpo, é dançar com vida, mover com ritmos assassinos para matar a sede de dançar, digamos que é uma patologia psicopata, pois a vontade depois de matar, renasce com mais vontade ainda.

O prazer para mim está inegavelmente associado à dança, ao corpo, à palavra, à escrita, à leitura, à sensação de sentir até nada proferir, à sensação de tocar mesmo sem corpo habitar, mas saber sentir para lá do expectável, saber sentir o que é o prazer de viver por cima de amontoados de palavras que provocam o caos e que quero aprender a saber viver no meio dele, no meio do caos.

Ainda estou a educar-me a viver no meio do caos, no meio de palavras sem corpo e de corpo sem palavras, estou a ensinar-me a sentir prazer pelo simples facto de querer viver mais e melhor.

Quero apenas vida em mim…

Vida em Mim que há em Ti, Vida em Ti que há em Mim.